Setembro, de temperatura amena, começou quente e triste

Um mês que costuma ser fresco, começou quente com o incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, e transformou em cinzas grande parte da nossa história pouco valorizada, e que jamais será recuperada.

Se com esse patrimônio cultural de pé os investimentos para mantê-lo eram parcos, imagine agora que, o vento e a força das águas oriundas das mangueiras do Corpo de Bombeiros, para conter as chamas, transformaram em nada os mais de 20 milhões de itens do acervo – alguns únicos e raros. 

Além do seu rico acervo, também o edifício histórico que abrigava o Museu, antiga residência oficial dos Imperadores do Brasil, foi extremamente danificado com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.

Estátua de Dom Pedro 2º em frente ao Museu Nacional, dias antes do incêndio. Foto: Ricardo Moraes / Reuters.

Felizmente, ninguém foi atingido pela catástrofe, pelo menos não fisicamente, e alguns itens foram salvos. No entanto, o fogo provocou danos irrecobráveis à cultura brasileira, visto que o museu tinha completado 200 anos em junho deste ano e contava com mais de 20 milhões de itens.

Perdeu-se um patrimônio sociocultural insubstituível, que durante 200 anos guardou riquezas que nos permitiram compreender parte dos caminhos pelos quais trilhamos até aqui como sociedade brasileira desigual, e que ainda busca caminhos para se constituir num país mais justo e digno para toda a nossa gente.

Por que o museu é importante

Luzia, fóssil humano mais antigo encontrado na América, com cerca de 13 000 anos, não resistiu ao fogo. Foto: Museu Nacional.

  • Criado por D. João VI em 1818, o museu completou 200 anos em junho deste ano. Era a instituição científica mais antiga do país.
  • Ele tem coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia. Eram mais de 20 milhões de itens.
  • Foi lá que a princesa Leopoldina, casada com D. Pedro I, assinou a Declaração de Independência do Brasil em 1822.
  • Anos depois, também foi palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, que marcou o fim do Império no Brasil.

O Meteorito Bendegó, com 5 360 quilos, que sobreviveu ao incêndio. Foto: Museu Nacional.

Que o trágico desfecho do Museu Nacional desperte na população e, principalmente, na classe política, nos governantes e nos empresários, a consciência de que uma das mais contundentes riquezas de uma nação é zelar o tempo todo pelas instituições que existem para preservar as histórias, as trajetórias e que, em função dos seus valores intergeracionais, devem ser mantidos, bem cuidados e acessíveis para toda a eternidade, custe o que custar. Por aqui, fico. Até a próxima.

***
Leno F. Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Escreve às terças-feiras no São Paulo São.

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