Uma força para a bicicleta elétrica

Pois. É justamente isso que acaba de ser anunciado: um incentivo de 250 euros para a aquisição de bicicleta elétrica.

O dinheiro está ligado ao Fundo Ambiental e irá ser usado, em um primeiro momento, na compra de 1000 bicicletas (ok, ok, parece pouco, para quem está acostumado com os números gigantescos de Brasil. Mas se formos pensar em proporção, seria algo como um anúncio de incentivo do governo brasileiro para a compra de mais de 20 mil bikes elétricas. E aí, será que o novo ministro do meio-ambiente top

Quem quiser tentar estar entre esses mil primeiros cidadãos a ganhar o benefício terá que submeter o pedido a uma plataforma online que entra no ar daqui a alguns dias. E só vale bicicletas de uso urbano. A iniciativa é a ampliação de um programa que já beneficiava aqueles que queriam comprar um carro elétrico e que passará também a ter as regras alteradas a partir deste ano: será dado a menos motoristas, mas com um valor maior por veículo. Dos 750 euros em vigor em 2018, agora cada interessado pode receber um incentivo de 3 mil euros por carro. Ao todo, o projeto tem cerca de 3 milhões de euros para os benefícios, algo como pouco mais de 13 milhões de reais.

A extensão do benefício às bikes é uma conquista também das entidades ligadas à mobilidade urbana e bicicletas. No final do ano passado, associações como a MUBi (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta), a Federação Portuguesa de Ciclismo e a Abimota (Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas), além de entidades ambientalistas, enviaram um position paper aos parlamentares solicitando, além do apoio financeiro, a inclusão das bicicletas nas políticas públicas de incentivo à mobilidade elétrica. No documento, apontam que, mesmo sem qualquer tipo de incentivo ou benefício, foram vendidas mais de 3 mil bicicletas elétricas em 2016, com reflexos positivos não só do ponto de vista econômico direto, mas também quando se consideram os aspectos ambientais. As entidades reforçam que “não faz sentido o Governo afirmar que pretende investir e promover formas de mobilidade menos poluentes e mais saudáveis e sustentáveis, e ao mesmo tempo discriminar a bicicleta”.

Ciclista pedala em Londres, Inglaterra, uma das cidades europeias que mais investem na bicicleta segundo dados da ECF. Foto: Joe Newman.

Dados da ECF (Federação de Ciclismo Européia) de 2016 apontam que o uso da bicicleta (considerando não apenas os valores óbvios da indústria que produz as magrelas) movimenta anualmente pouco mais de 500 bilhões de euros (o relatório detalhado por ser lido no link https://ecf.com/groups/eu-cycling-economy), o equivalente a cerca de 3% do PIB da União Europeia ou mais que o dobro do PIB de Portugal. Na UE, a bicicleta já representa algo como 8% de todo os deslocamentos, contra 1% ainda em Portugal. Alguns estudos também mostram que em trajetos urbanos de até 10km de distância a bicicleta elétrica é mais rápida do que os carros. Eu, que já pedalei muito em São Paulo pelas faixas da Faria Lima, Pedroso de Morais e Berrini – e sem ajuda do motorzinho elétrico, diga-se de passagem -, posso garantir que sentia até um certo prazer sádico ao ver motoristas parados por intermináveis minutos (10, 15, 20, meia hora?) enquanto eu passava feliz e saudável…

Este novo trajeto faz parte do plano da Câmara Municipal de Lisboa para criar 210 km cicláveis na capital, entre este ano e o próximo. Foto: Mário Rui André.

Portugal tem uma indústria de bicicletas importante, a terceira maior da Europa, empregando mais de 5 mil pessoas. O incentivo dado agora para as bicicletas elétricas segue um caminho já adotado por países como Suécia, França, Itália e Áustria. Em 2017, a Suécia passou a ser a grande referência neste assunto, com um orçamento de mais de 30 milhões de euros para o incentivo à aquisição de bikes elétricas.

O anúncio da força dada para as bicicletas elétricas chega ao mesmo tempo em que a câmara de Lisboa apresenta o plano de construção de ciclovias até 2021, mais do que duplicando a malha atual. Os detalhes serão apresentados no próximo mês, mas já há informações de que a rede de 90 quilômetros ganhará novos trechos e prolongamentos para alcançar 200 quilômetros em até três anos. Deve tudo estar pronto para o grande evento anual da Federação Europeia de Ciclismo, o “Velo-city”, em 2021, ano em que Lisboa será a “Capital da Bicicleta”.

Imagem: Reprodução.

A cidade portuguesa disputou a sede do evento com outras duas grandes metrópoles europeias, mas foi escolhida justamente pelos recentes e crescentes incentivos que o país tem dado para as bicicletas. Aqui na minha pequena e querida Ovar, o caminho tem sido o mesmo: as ciclovias continuam a ser expandidas e um novo trecho ligando o centro da cidade a um importante polo comercial deve estar pronta daqui a poucas semanas. É a bicicleta girando a economia!

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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