Casas compartilhadas para comer, trabalhar, aprender e lavar roupa

 
Os títulos das casas são todos em inglês: Work (trabalho), Food (comida), Learning (aprendizado) e Bubbles (bolhas). Mas, nascido em Paulínia, interior de SP, o empresário Wolf Menke vem mesmo é transformando o bairro de Pinheiros, em São Paulo, com quatro empreendimentos. Uma demonstração de que a chamada economia compartilhada já é uma realidade na cidade.
 
Aos 34 anos, Wolf trabalhou como designer em várias empresas e nunca completou uma faculdade. Com um pouco de dinheiro junto e uma ideia na cabeça, conseguiu, no ano passado, alugar uma casa na rua Virgílio de Carvalho Pinto por cerca de R$ 5 mil, buscou alguns parceiros, gastou uns R$ 250 mil de reforma. E assim nascia a House of Work, que aluga espaço para “profissionais independentes plugarem seus laptops, terem acesso a uma impressora boa e a uma sala de reuniões bacana para trabalhar”, conta Wolf. Uma das parceiras é a Heineken, então, rola cerveja de graça para todos os usuários, que pagam R$ 60 por dia ou R$ 950 por mês para usarem o espaço.
 
– É bom para o profissional sair de casa, trocar ideia, encontrar gente numa vibe semelhante à sua. E ainda é muito mais barato alugar aqui do que um escritório convencional – conta Marina Malta, de 34 anos, dona de uma empresa de comunicação para mídias digitais.
 
Depois da House of Work, outra casa na Virgílio vagou para alugar, aí veio a House of Food. Depois veio a Learning e agora, no fim de agosto, Wolf Menke abre a House of Bubbles; misto de lavanderia, champanheria e brechó. Ainda terá um ofurô para a clientela, “a ideia é relaxar enquanto se lava a roupa”.
 
 
 
O sucesso das quatro casas é tanto que Wolf consegue zerar todos os seus investimentos — em aluguel, reforma das casas e contratação de pessoal — basicamente dois meses depois que abre seus negócios. Seja com o aluguel dos imóveis em si, seja com parcerias com grandes marcas.
 
A rua virou de Pinheiros virou uma espécie de Williamsburg, o bairro do Brooklyn onde gente moderna circula. No último fim de semana e no próximo, por exemplo, o McDonald´s promove o #EsquentaMcDia na House of Foods. A marca convidou os chefs Bruno Alves e Carlos Bertolazzi para reiventar o Big Mac usando a cozinha compartilhada da casa. No sábado passado, Breno vendeu mais de mil unidades de seu sanduíche que levou shoyu e picles empanado. No sábado que vem é a vez de Bertolazzi.
 
–  Além de gerar riqueza a gente ocupa a rua — comenta o empreendedor, que não conta com nenhum esquema especial de divulgação, somente com as redes sociais.
 
A House of Foods é alugada diariamente (a lista de espera pode chegar a três meses) por chefs ou que queiram testar pratos novos ou que estejam visitando São Paulo para cozinhar. Todos os dias há almoço e jantar; o cardápio é colocado numa louça em frente. O aluguel custa entre R$ 450 (segunda a quarta) e R$ 900 (sábado). Chefs podem chegar a lucrar R$ 13 mil num sábado.
 
Em junho, Wolf organizou uma festa junina na rua. Bombou.
 
–  O pessoal da Heineken que forneceu as cervejas me disse: ‘a gente gasta milhões de reais às vezes para reunir gente legal numa festa e você consegue isso espontaneamente’ — conta Wolf, que se prepara para expandir ainda mais seus negócios com franquias: vai abrir uma Food na Vila Madalena e uma Food e uma Learning no Rio. — A Learning será em setembro na Fonte da Saudade e a Food será logo depois, em outubro, em Botafogo — adianta.
 
Os nomes em inglês, justifica, são para realmente levar a marca para o exterior. A mulher dele acabou de ser transferida para Paris, “e eu ficarei lá e cá”.
 
Na House of Learning, quem quiser dar um curso de graça, por exemplo, pode alugar o espaço sem pagar nada. Os valores são cobrados proporcionalmente ao que o professor ganhar por curso. A ideia do empresário é realmente seguir a tal economia compartilhada, “gerar o bem porque aí o lucro vem”.
 
Na Bubbles, a ideia é que roupas, depois de lavadas —as máquinas foram todas conseguidas de graça com a Brastemp e o sabão é da Unilever — possam ser deixadas ali para serem vendidas, caso o cliente não queira mais.
 
Durante a obra da Bubbles, que está na reta final, Wolf teve a ideia de deixar uma rede em frente à casa. É comum ver os funcionários das Houses descansando ali. Transeuntes também já pediram para usar a rede, que agora vai ficar no lugar.
 
– Meus funcionários são estimulados a fazer somente o que tiverem vontade. Chegam aqui e escolhem em que casa ficam. Nunca tive um problema. A melhor maneira de você conseguir o que quer é dar esse empoderamento às pessoas que trabalham com você — acredita Wolf, que não divulga o quanto já ganhou.
 
Diz que por enquanto a prioridade dele é trabalhar muito e investir. Fala sempre do pai, que foi assassinado após um assalto em Paulínia em frente à casa da família, quando Wolf era criança. Ele acha que vem daí esse espírito de “já estou no lucro e não tenho nada a perder”.
 
– Além do mais, acredito mesmo que o mundo está mudando e a gente caminha mesmo para isso de dividir. Dividir o local de trabalho, a cozinha, o aprendizado. Não há mais espaço, nem recurso, para este consumo desenfreado.

***

Mariana Timóteo da Costa em O Globo.
 

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