Conectar a vida urbana com a natureza torna as pessoas mais saudáveis

“As crianças da cidade estão crescendo sem ver as estrelas. Dá para imaginar isso?”. Esse foi o questionamento de Peter Kahn, pesquisador da Universidade de Washington, ao comentar uma recente pesquisa conduzida por ele e publicada na revista Science, sobre o protagonismo irrefutável que as cidades desempenham na vida humana ao mesmo tempo em que causam uma maior desconexão com a natureza.

Em linhas gerais, a sociedade está em consonância com a pulsação urbana, mas a quais custos? Afinal, como espécie, nós evoluímos junto com a natureza, e ainda precisamos dessa conexão, fisicamente e psicologicamente. O cientista, condutor da pesquisa, reforça tal argumento nesta entrevista: “Olhe em volta e vemos muitas doenças. Por exemplo, um terço das pessoas nos Estados Unidos são obesas. Cerca de 10% tomam antidepressivos. As pesquisas comprovam o que eu acho que todos nós sabemos intuitivamente: nós somos mais vibrantes e saudáveis quando vivemos em conexão com o mundo natural”.

Para Kahn, diretor do Laboratório de Interação Humana com a Natureza e Tecnologia e professor do Departamento de Psicologia da Escola Ambiental e de Ciências Florestais, ambos na Universidade de Washington, “enquanto construímos cidades maiores, não estamos cientes do quanto e quão rápido estamos minando nossa relação com a natureza, e uma natureza mais selvagem – nossa fonte de existência”.

Há doenças que estão relacionadas diretamente à nossa remoção voluntária de ambientes naturais. Afinal, é normal para quem vive nas cidades ter pouco ou nenhum contato cotidiano com a natureza. A pesquisa ressalta como isso está produzindo uma espécie de “amnésia ambiental geracional”, um termo que Kahn cunhou e elaborou de maneira ampla em um livro recentemente publicado, que descreve como cada geração cria uma nova ideia sobre o que é o ambiente normal, baseado em suas experiências de infância.

A falta de contato de uma criança com bichos, terra e árvores, por exemplo, pode resultar em um adulto que não enxerga a degradação das florestas ou da proteção necessária para esse meio natural. O que, de certa forma, segundo os autores, ajuda a explicar a inércia sobre os problemas ambientais. Exatamente pela falta de senso de urgência para a magnitude dos problemas. “Porque nossa linha de base de experiências mudou”, destaca a pesquisa.

O desenvolvimento de centros urbanos densos, portanto, pode ter consequências para gerações futuras. O objetivo é conseguir acesso à natureza ao lado das vantagens que as cidades podem oferecer.

Criar espaço para a natureza

Foto que venceu o concurso LensCulture Exposure 2013, do malaio Chee Keong Lim, durante visita a Bali, na Indonésia: crianças brincando com a água.

Há caminhos que as cidades podem tomar para introduzir ambientes naturais no cotidiano de seus moradores. Entre os elementos que a pesquisa elenca como base de solução para o planejamento urbano estar em contato com a natureza estão: “exigir por parte dos edifícios janelas com espaço para entrada de ar fresco e luz natural, incorporar telhados verdes, jardins panorâmicos e agricultura urbana, criar espaços dentro e em torno dos edifícios que permitam o contato com plantas nativas”.

Essa base de solução, no entanto, vai além de introduzir elementos naturais na vida urbana. Para os pesquisadores é necessário, antes disso, que exista uma valorização da natureza nos centros urbanos para que se iniciem, de fato, mudanças nessa área nas cidades. Com esses elementos em jogo, as pessoas poderiam experimentar, verdadeiramente, os benefícios de estar em contato com a natureza, “além de deslocar a base coletiva para a melhor compreensão e apreciação do mundo natural”, ressalta a pesquisa.

Por mais simples que possa parecer, ter um lugar gramado para pisar no horário de almoço é uma experiência que pode aprofundar o envolvimento sensorial com a natureza. Projetar as cidades com esses cuidados pode ser uma força estimuladora para as áreas urbanas – além de ser psicologicamente restaurador. Da forma como são as cidades hoje, elas são percebidas pelas pessoas como ambientes artificiais, onde não se estabelece a mesma relação que ocorre na natureza.

Segundo os autores da pesquisa, cidades bem planejadas, com a natureza em mente e palpável para os habitantes, podem voltar a ser entendidas como um ambiente natural, pois favorecem tanto a integridade do ecossistema como da saúde pública.

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