Cooperativa de orgânicos cresce no extremo sul de São Paulo

O sorriso vem fácil quando a gente conversa com Valéria Macoratti, Presidente da Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas). Eu a encontrei algumas vezes na Feira de Orgânicos do Ibirapuera, cuidando da banca da cooperativa, enquanto compartilhava com o público hortaliças, verduras saudáveis e muita história.

Couve de mais de uma variedade, a maior taioba que já vi na vida, cebola, tomate, cenoura, pimentão, gengibre, berinjela, pepino, alface, abóbora, morango…sim, a lista é grande. Tudo disposto na barraca da Cooperapas. Até peixinho, uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC), encontrei em meio à grande variedade de alimentos orgânicos oferecidos.

Hoje, além da feira no Ibirapuera, a cooperativa participa de uma outra no parque Burle Marx, fornece hortaliças para o Google Brasil, para o Instituto Chão e é a mais nova fornecedora do restaurante Arturito, da chef Paola Carosella. Até mesmo um episódio do programa Master Chef foi gravado na região de Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo, local onde são produzidas as hortaliças da Cooperapas.

Mas o começo não foi fácil. A cooperativa surgiu em 2011, a partir da iniciativa de alguns agricultores que assinaram um protocolo de boas práticas ambientais com a Prefeitura de São Paulo e com o governo do estado com objetivo de cessar o uso de agrotóxicos e adubos químicos na região. Dali até realizarem a primeira venda coletiva, muitos ajustes tiveram que ser feitos.

“Tivemos bastante dificuldade no começo, porque nenhum agricultor tinha experiência no cooperativismo. A organização e mesmo a convivência foram complexas. Nossa cooperativa ficou parada durante praticamente três anos porque não conseguíamos acertar a documentação e não tínhamos a experiência necessária. Então, em 2014 a gente montou uma comissão para reativar a Cooperapas e, junto com o pessoal da Casa de Agricultura de Parelheiros, conseguimos com esforço acertar a documentação. Em 2015, fizemos nossa primeira assembleia e ficou tudo certo, colocamos a cooperativa para funcionar”, diz Valéria.

Essa assembleia elegeu Valéria presidente da Cooperapas. Hoje com 48 anos, ela descobriu a paixão pelo trabalho na terra aos 40, quando mudou-se para Parelheiros, teve contato com os agricultores e tornou-se, ela mesma, uma agricultora. Com um olho no freguês e outro na história, Valéria vai contando essa trajetória na banca da cooperativa, durante a feira no Ibirapuera.

“Agradeço muito porque fui descobrir essa paixão pela agricultura depois dos 40 anos de idade. Tenho uma porção de cachorros e resolvi comprar uma chácara em Parelheiros. Fui pra lá e acabei conhecendo os agricultores. E hoje sou agricultora e presidente de uma cooperativa. Tem hora que não acredito nisso”.

A primeira entrega coletiva realizada pela Cooperapas aconteceu em 2015, durante o encontro nacional de estudantes de design, o N SP 2015. “Foi um marco para eles, estudantes, organizadores, e para a gente também. Até então os agricultores tinham receio dessa história de cooperativa, e essa foi nossa primeira venda em conjunto. Fizeram o pedido, foi uma correria, todo mundo colhendo, mas entregamos tudo”. Asverduras e hortaliças orgânicas alimentaram cerca de 1.200 estudantes com refeições diárias durante uma semana, preparadas por empreendimentos que hoje integram a Rede União dos Sabores Solidários, sobre a qual falei em post anterior.

“Já temos um monte de coisas em andamento. Somos cerca de 25 cooperados por enquanto, e estamos recebendo apoio para produzir e fornecer alimentos pra merenda escolar e também para ampliar o nosso leque de negócios. Nós, agricultores, estamos descobrindo juntos agora esse universo. Já apresentamos projeto para o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRE), para o Banco do Brasil, enfim. Estamos buscando apoio para a nossa causa, que não é só agricultura saudável. Quando me perguntam o que a gente produz em Parelheiros, qual o tipo de alimento, eu respondo: o alimento maior que a gente produz é água”. A região de Parelheiros concentra os dois únicos rios limpos na cidade de São Paulo: o Capivari e o Monos. A produção agrícola orgânica contribui para manter assim esses cursos d’água.

Em toda essa trajetória, a cooperativa teve a ajuda do Instituto Kairós, uma entidade sem fins lucrativos que fomenta novas práticas de produção, distribuição, comercialização e consumo responsáveis. O Kairós desenvolve suas ações de acordo com princípios e propostas da economia solidária, agricultura camponesa/familiar, agroecologia e soberania alimentar.

O trabalho com educação ambiental é também uma possibilidade apontada por Valéria para ampliar ainda mais o trabalho da Cooperapas. “Nós recebemos propostas de escolas para levarem as crianças e visitarem os canteiros. Uma dessas escolas, que faz estudo do meio, esteve lá conosco, e fizemos para as crianças café da manhã, almoço e lanche. Elas adoraram e agora querem levar os pais para conhecer nosso trabalho. São novas possibilidades que se abrem. A gente não ganha só trabalhando na terra. As pessoas querem saber o que a gente faz, conhecer a nossa história. E não é uma exploração, é o nosso tempo, nosso trabalho. E esse contato com a terra encanta as pessoas. A Cooperapas hoje é uma realidade. Tem muita coisa pra fazer ainda, mas a gente tá aí, firme e forte”, aponta.

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Mônica Ribeiro no Conexão Planeta.

 

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