É preciso marketing para bicicleta se popularizar nas grandes cidades, diz consultor

A partir desse raciocínio, o consultor sobre ciclismo urbano Maarten Woolthuis acredita que só é possível mudar a comportamento das pessoas em relação à bicicleta a partir de campanhas de marketing. “Para convencer sobre o uso da bicicleta você precisa de uma estratégia”, disse Woolthuis em entrevista ao Nexo.

O holandês é um dos responsáveis pelo aplicativo Toury, que permite que ciclistas acompanhem os próprios dados de velocidade e distância percorrida, assim como economia com gasolina relacionada ao uso do carro.

O consultor participa no Brasil de eventos ligados ao Round N Around, um projeto de pesquisa sobre o uso de tecnologias digitais para o fortalecimento do ciclismo em cidades. Trata-se de uma parceria entre o Inovalab, um centro de inovação da Universidade de São Paulo, e o Citizen Data Lab, da Amsterdam University of Applied Sciences.

Como convencer as pessoas a andar de bicicleta

Woolthuis defende que haverá sempre uma parcela considerável do público reticente em adotar o ciclismo. O argumento de que a infraestrutura poderia melhorar sempre estará lá, por exemplo – mesmo em um país como a Holanda, em que o meio de transporte é popular e já bastante consolidado entre a população.

Mas, assim como há campanhas de marketing bancadas pelo poder público ou por empresas para convencer as pessoas a consumir certos produtos, deve-se investir em peças para levá-las a adotar as bicicletas, algo que já vem ocorrendo na Holanda.

Segundo Woolthuis, pesquisas de mercado realizadas em seu país dividem os potenciais ciclistas em grupos.

Os 3 grupos

– Curiosos

Pessoas curiosas que se dispõem a experimentar novas tendências sem compromisso e adotam com entusiasmo o ciclismo em um primeiro momento.

– Calculistas

Pessoas calculistas, que precisam de bons argumentos para mudar de hábitos. Ela precisa ter a mão dados sobre calorias queimadas, melhora de saúde e economia de tempo porque se importa com status e precisa explicar aos outros por que adotou o ciclismo. Por esse motivo, é um importante aliado na divulgação da prática.

– Céticos

O grupo mais importante, e que precisa da influência dos dois grupos anteriores para se convencer a adotar o ciclismo, é o cético, que busca sempre argumentos para não mudar de hábitos.

“Eles [os céticos] são os mais difíceis de convencer, podem dizer que não tem ciclofaixas na rota ou que pouca gente do escritório adotou a bicicleta. Eles precisam de estímulo partindo de outros, mas assim que mudam de comportamento, passam para sempre para a bicicleta”. Maarten Woolthuis, consultor.

Para o Woolthuis, além do investimento direto do governo em marketing, gestores de políticas públicas também devem sensibilizar empresas sobre o impacto positivo que a adoção da bicicleta pode trazer. “Se uma empresa quer se beneficiar do status de sustentável, ela deveria instalar vestiários, estacionamentos e adotar campanhas a favor do ciclismo. Há muitas empresas suecas e alemãs em São Paulo que poderiam incentivar o ciclismo, que é bem comum nos seus países de origem”, afirma.

São Paulo estuda implementar um programa oficial de incentivo ao ciclismo. A Câmara Municipal aprovou no dia 7 em um projeto de lei que prevê R$ 50 por mês para quem for de bicicleta ao trabalho pelo menos três vezes por semana. Pelo texto, as empresas empregadoras fariam os pagamentos em troca de abatimento de impostos. A proposta precisa de uma segunda votação para que possa ir à sanção do prefeito Fernando Haddad.

A Bicicleta e as cidades do século 2

Woolthuis avalia que as cidades se tornarão cada vez mais dependentes das bicicletas conforme elas concentram uma quantidade maior de pessoas que não poderão ser transportadas apenas por automóveis.

Desde 2008, a população urbana mundial é maior do que aquela vivendo em áreas rurais. É a primeira vez que isso ocorre na história da humanidade. Até 2050 esse contingente deve crescer cerca de 60%, e ultrapassar 6,3 bilhões de pessoas.

“É impossível que todas as cidades continuem a comportar milhões de carros. Governos precisam se planejar para transformá-las em locais mais aprazíveis”, diz.

Para ele, o ciclismo é do interesse dos governos porque diminui os investimentos em mobilidade.

Eles também são do interesse das companhias porque representam funcionários mais saudáveis. “Trabalhadores mal de saúde presos em engarrafamentos estão custando dinheiro. Você quer ter seus quadros os mais saudáveis e produtivos quanto possível”, afirma.

O perfil do ciclista brasileiro

O marketing pode ser uma boa forma de ampliar o ciclismo principalmente entre o público que pode escolher entre a bicicleta e o carro. Enquanto isso, no entanto, uma parcela grande dos ciclistas tem recorrido à bicicleta por necessidade, sem que nenhuma campanha seja necessária para tanto.

Um levantamento da ONG Transporte Ativo feito no final de 2015 mostrou que, no Brasil, as pessoas mais pobres pedalam mais, e o trabalho é o principal destino. Esse é, também, o público que normalmente fica de fora das políticas de mobilidade urbana relacionadas à bicicleta.

Outra pesquisa mostrou que as mulheres são apenas 7% dos ciclistas. Além da carência de infraestrutura, falta de respeito e assédio são algumas das razões da pouco adesão das mulheres ao meio de transporte – problemas que também poderiam ser abordados por campanhas de conscientização.

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Por André Cabette Flávio no Nexo Jornal.

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