Era 1978, na época Luiz Inácio Lula da Silva ainda se consolidava como líder sindical no ABC. Os metalúrgicos, inconformados com a atual situação política e trabalhista do Brasil, resolveram, literalmente, parar as máquinas. Em um contexto de violência explícita pela ditadura militar, já desmoralizada por um regime insustentável, dez ousados fotógrafos, engajados na luta pela liberdade e democracia, passaram a viver ao lado dos manifestantes dirimente.
O fotógrafo Ennio Brauns, que foi um dos organizadores e curador do livro, conta que a cobertura das manifestações era uma forma de conciliar o trabalho com a militância. “Todos os fotógrafos tinham consciência do que estava acontecendo e se posicionavam contra o regime. Aquilo durou meses, um convívio diário. A proximidade ajudava no trabalho. Não era só uma questão de se posicionar bem em relação a foto, mas também de saber o que iria acontecer, estar bem informado”.
O cineasta e coordenador editorial do livro Adilson Ruiz conta que o projeto foi pensado como o roteiro de um filme, e pelas fotos selecionadas, pretende contar a história das greves metalúrgicas em São Paulo e ABC de 1978 a 1981. “Ao invés de dividir o livro em dez sessões com os fotógrafos, resolvemos criar uma narrativa e usar a fotografia dentro dela. Esses fotógrafos criaram uma narrativa alternativa à narrativa oficial que a mídia hegemônica trazia”
O livro foi publicado pela Fundação Perseu Abramo. Foram impressos 500 exemplares que serão distribuídos para universidades, bibliotecas e instituições e pesquisa. Para o Ruiz, a ideia é que a obra funcione como um instrumento de documentação e pesquisa “ A publicação do livro serve com um instrumento de pesquisa, principalmente aqui no Brasil, onde as pessoas costumam esquecer o passado de nosso País.
A segunda metade da década de 70 marcou o inicio da queda da ditadura militar e os movimentos sindicais e as greves retratadas no livro foram fundamentais para o fim do regime implantado em 1964
Ennio destaca que os registros fotográficos dessa época são importantes para entender o que acontecia com o País naqueles anos. Os dez fotógrafos são Eduardo Simões, Ennio Brauns, Hélio Campos Mello, Jesus Carlos, João Bittar, Juca Martins, Nair Benedicto, Ricardo Alves, Ricardo Giraldez e Rosa Gauditano.
16/04/1980 – Lula, jornalistas, fotógrafos, e sindicalista, na sala de reunião do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, na véspera da intervenção pelo Ministério do Trabalho e da consequente invasão da polícia militar.
26/04/1980 – No periodo em que sindicato esteve sob intervenção e a diretoria presa no DOPS, os metalúrgicos grevista do ABC se reuniam em assembleia permanente na Igreja da Matriz de São Bernardo. Foto: Nair Benedicto para a Agencia F4.
1979 – Manifestação dos metalúrgicos em greve na Rua Marechal Deodoro contra intervenção no sindicato pela TRT e pela polícia. São Bernardo do Campo, SP.
Foto: Jesus Carlos para o jornal Em Tempo.
1979 – Policiais armados, com cães farejadores invadiram o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, durante a intervenção, ordenada pelo Ministério do Trabalho e que afasta toda a diretoria. Foto: de João Bittar para a revista Isto É.
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Por André Neves Sampaio na Revista Brasileiros.