Mobilidade e ‘Cidades Inteligentes’: não é só tecnologia, é planejamento e desenvolvimento

Cidades Inteligentes: olho para a inovação, cabeça para decisões práticas. Foto: Getty Images.

Por Jean Vogel.

Mobilidade é um assunto recorrente nas cidades. Ela pode ser pública ou privada, individual, coletiva ou compartilhada, elétrica ou a combustão, mas sempre é extremamente sensível para a organização e vida nas cidades.

Sob o ponto de vista da administração pública, o transporte é um dos temas mais relevantes. Se para cidades menores trata-se de questão social, que permite o ir e vir de quem não possui meios próprios, para as médias e grandes, adiciona-se ao componente social a redução de veículos nas ruas, impactando diretamente no congestionamento de vias e poluição do ar e sonora. 

Paris vai limitar a circulação de veículos no centro. Avenida Champs-Élysées, uma das mais movimentadas da cidade. Foto: Parmorama/Alamy Stock Photo.

Mais que isso, a redução de veículos nos centros abre espaço para melhorar a circulação de pessoas e interação com equipamentos públicos, trazendo as pessoas para a rua, convidando-as a caminhar, se exercitar e assim, também ganhar qualidade de vida. Vamos além, restringir a circulação, ou pelo menos diminuir a velocidade dos automóveis, reduz drasticamente o potencial de morte em atropelamentos – uma pessoa atropelada por um veículo a 30km/h, tem 5% de chance morte, enquanto a 50km/h, esse risco sobe para 80%.

Leia também: Dirigir carro no centro de Paris? Isso vai ser muito mais difícil em 2024

Sob a perspectiva do mercado privado, o tema oferece amplo território de oportunidades, seja para as montadoras, que investem cada vez mais em modelos elétricos e em tecnologias para transformá-los em autônomos, seja para novos players – como a Tesla, que passam a ter relevância em um mercado antes restrito a poucos. Os modelos de negócios também passam por transformação, onde a aquisição deixa de ser o único modelo, abrindo espaço para a locação e o compartilhamento – que oferece um uso muito mais racional que o praticado hoje pela grande maioria dos usuários.

Conhecido como carsharing, serviço de compartilhamento de veículos é tendência no mundo. Foto: David Parry / FT.

Olhando como cidadão, há de se buscar o equilíbrio entre conforto, custo e consciência ambiental. Ninguém discorda que a subutilização de veículos com capacidade para 4 ou 5 pessoas é extremamente ineficiente. Porém, como se deslocar em distâncias médias sem um transporte público de qualidade e conectado?

Quem já teve a oportunidade de viajar para a Europa, pegando como exemplo Barcelona, percebe como o veículo próprio assume outro papel, pois é muito simples e prático a utilização do transporte público, que é conectado e multimodal.

Precisamos de um esforço conjunto da sociedade, governos e iniciativa privada para tornar esta realidade possível aqui também, mas tudo inicia, na minha opinião, por nós, pela sociedade, que deve demandar pela mudança em nossa forma deslocamento, priorizando modais limpos, públicos ou compartilhados, sob pena de ficarmos cada vez mais horas presos em congestionamentos.

No Brasil, que tem grande parte de sua geração elétrica por meio de fontes limpas, um veículo elétrico emite 10x menos CO₂eq, comparado a um movido por gasolina.

Muito mais que isso. Mobilidade ruim custa muito caro.

Quanto valem as horas de executivos gastas em deslocamentos que poderiam ser feitos e muito menos tempo, ou ainda, em quanto o valor do frete é impactado pela ineficiência da nossa mobilidade? Como a saúde mental e a criatividade da população é impactada com todo o stress gerado pelo ir e vir nas grandes cidades?

Leia também: Nas ‘Cidades de 15 minutos’ a mobilidade urbana deve fazer parte da paisagem

solução passa por planejamento, priorizando investimentos que tragam soluções de longo prazo, e que não sejam “operações tapa-buracos”, literalmente. Não é sustentável planejarmos cidades centradas no automóvel – da forma como é utilizado hoje, individualmente. A mobilidade deve ser compartilhada e movida por energia limpa, ajudando a tornar a vida mais saudável, física e mentalmente.

Ilustração para o conceito da ‘Cidade de 15 minutos’ do franco-colombiano Carlos Morenos. Imagem: Maire de Paris.

Cidades onde é possível se deslocar a pé, entre casa, trabalho, escola e lazer em menos de 15 minutos, materializam o conceito de que: a melhor mobilidade é não precisar dela. Sonho distante? Nem tanto. Experimente passar dois ou três dias na Cidade Pedra Branca, em Palhoça (SC), e depois me conte. 

***
Jean Vogel é presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC. Artigo publicado originalmente no SC Inova. Edição: São Paulo São.

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