Nova editora lança livros de política e temas sociais para crianças

Houve um tempo em que livros para crianças se contentavam em rechear com reis, princesas e sapos o espaço entre o “era uma vez” e o “felizes para sempre”. Mas isso parece estar ficando cada vez mais para trás.

Um dos novos exemplos é a editora Boitatá, criada no fim de 2015. Selo infantojuvenil da editora Boitempo, que se notabilizou na publicação de livros de história, política e economia, tendo como eixo principal o pensamento de esquerda, seus livros de estreia não trazem contos de fadas ou histórias de bruxas, mas falam sobre política e classes sociais para um público leitor que não tem muito mais do que oito anos de idade nas costas.

“Queremos despertar o questionamento na criança, fugir da história cuja personagem principal é uma princesa branca, loira, bonitinha, pronta para obedecer”, diz Ivana Jinkings, diretora editorial da Boitempo.

Em 1995, ao criar a editora, cujo nome pegou emprestado de um poema de Carlos Drummond de Andrade e de uma antiga editora criada nos anos 1960 por seu pai, o dirigente comunista Raimundo Jinkings, Ivana se preocupou dialogar com a universidade e a academia, publicando pensadores brasileiros e traduzindo nome estrangeiros como Karl Marx.

Nada mais distante do universo infantil. Foi no aniversário de 20 anos da Boitempo, comemorado no ano passado, que Ivana decidiu tirar do papel o velho desejo de abrir um canal com as crianças.

A Boitempo, até então, não tinha a mesma estratégia de grandes editoras do país, que viram no livro infantojuvenil um atrativo para pais, escolas e, principalmente, para as compras do governo. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, o mercado editorial para crianças e adolescentes no Brasil foi responsável em 2014 por quase 12% de toda a produção de livros, colocando nas livrarias 57 milhões de exemplares.

Com a crise econômica e os cortes orçamentários em 2015, no entanto, as compras governamentais foram adiadas ou suspensas, o que deve afetar os números do ano. “A Boitempo é uma editora que dificilmente entra na lista de livros comprados pelo governo. Quando lançamos um selo infantil e temos a chance de entrar nela, as compras são suspensas (risos).”

Para compensar a crise econômica, a Boitatá busca ultrapassar a fronteiras dos filhos e alunos dos leitores da Boitempo, apostando que seus livros infantis sejam trabalhados em sala de aula. Para atrair ainda mais os professores, obras de ficção serão lançadas neste ano e há a estratégia de descolar a Boitatá da definição “de esquerda”.

“É difícil dizer que um livro para crianças seja de esquerda. Queremos publicar um texto inteligente, que plante uma sementinha na cabeça do leitor, para que ele repense seu lugar no mundo. Nossos livros são para crianças inteligentes, e não para crianças de esquerda.”

Os dois primeiros títulos, “A Ditadura É Assim” e “A Democracia Pode Ser Assim” já foram lançados. Os próximo, “O Que São Classes Sociais?” e “As Mulheres e os Homens”, devem chegar às livrarias no final de fevereiro ou no começo de março. A editora já está trabalhando nos primeiros livros de ficção, que serão lançados ainda em 2016, além de numa coleção para adolescentes, prevista para 2017.

***
Bruno Molinero na Folhinha.

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