Assisti recentemente na programação do Cabaré da III Mostra Internacional de Teatro de São Paulo a uma apresentação inesquecível do Coral de Haitianos, do espetáculo Cidade Vodu.
Sensíveis, verdadeiros e talentosos os jovens, quatro homens e uma mulher, nos presentearam com interpretações belas de canções do seu país, as quais me tocaram profundamente.
No palco do galpão do Centro Compartilhado de Criação, incrustado no bairro da Barra Funda, os cantores tiveram a possibilidade de expressar músicas da sua terra que, por razões sociais e econômicas, tiveram que deixar em busca de oportunidades no Brasil.
Em determinado momento do show um dos intérpretes tentou nos dizer qual era o contexto do seu país relatado na canção. Contudo, a emoção e talvez a saudade, não permitiram que ele seguisse adiante.
A performance durou quase uma hora mas a sua intensidade foi tanta que ela reverbera em mim até agora. E, no final, com total merecimento, o coral foi ovacionado pela platéia.
Naquele instante desejei que muitas das pessoas que hostilizam os refugiados do Haiti tivessem ali para presenciar o grupo, conhecer os talentos daqueles seres humanos, nossos irmãos, que estão no Brasil em função das circunstâncias, e que vieram para aprender, ensinar, dialogar, trabalhar e compartilhar suas histórias de vida com a nossa gente, ofertando o que eles têm de melhor como, por exemplo, as lindas canções que tive o privilégio de ouvir sentado na mesa do gargarejo. Por aqui, fico. Até a próxima
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Leno F.Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.