Onde passava o Rio Pinheiros

Observou-se que no início dos tempos a várzea era um obstáculo que limitava a expansão urbana, graças às suas características naturais e físicas. Esse ganho de terras do rio direcionou sua ocupação e foi fator determinante na comercialização dos terrenos. A construção de avenidas e vias expressas que deram acesso às grandes glebas drenadas pela Light aliados ao sistema de financiamento, atraiu dezenas de empresas multinacionais a partir da década de 1970, iniciando o eixo do setor terciário do setor sudoeste da cidade.

Canal do Rio Pinheiros em direção sul da Avenida Cidade Jardim. Foto: acervo da Fundação Energia e Saneamento de São Paulo.

A criação das Operações Urbanas Consorciadas Faria Lima em 1995 e Água Espraiada em 2001, fez desta área, mais uma vez, objeto de grandes intervenções urbanas. Apesar dos avanços adquiridos referentes ao aspecto legal do planejamento urbano, com o advento do Estatuto da Cidade em 2001, tanto o Plano Diretor como as leis que regulamentam as operações urbanas, ainda não levam em conta o meio físico territorial. No geral, apresentaram programa amplamente voltado para melhoria do sistema viário, amparado no adensamento construtivo para captação de recursos para as obras.

Planta da Light do antigo leito do Rio Pinheiro. Fonte: Google Earth Pro (2012) .

Em uma cidade com a dinâmica de ocupação urbana como São Paulo, o levantamento histórico de informações se faz necessário para um planejamento adequado. Ao resgatar os mapas com o traçado do antigo leito do rio Pinheiros observou-se que muitas ruas foram executadas sobre os aterros de seus meandros. Há trechos em que o traçado original apresenta distância superior a quinhentos metros em relação ao atual canal. Outras evidências da existência do rio podem ser constatadas em vias curvas em locais planos, unindo os loteamentos antes separados pelo rio, em ruas sem saída ou desencontradas, em divisões irregulares entre lotes na mesma quadra. Nos locais onde passava o rio Pinheiros, a água aparece nas inundações decorrentes de problemas de drenagem e aterros, e também nas sarjetas devido ao exaustivo bombeamento do lençol freático onde há subsolos de garagem. Este trabalho procura trazer uma releitura, não só do rio Pinheiros, mas dos rios em relação à cidade, que apresentam características e situações semelhantes, tanto de ocupação como de planejamento urbano.

Marginal do rio Pinheiros, em São Paulo. Foto: Victor Moriyama.***

Angela Kayo é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Mackenzie, Mestre em Habitação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Artigo originalmente escrito para a X Bienal de Arquitetura 2015.
 
Colaborou: Prof. Dr. Wolney Castilho Alves – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

 

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