Por uma rádio municipal de São Paulo; AM, FM e Web

 

“Rádio é tudo. Queremos uma Rádio Municipal em SP”. Tuitei isso no inicio de julho, a propósito de uma noticia do Meio & Mensagem, 58% da população ouve música no rádio. Todo mundo ainda gosta de ouvir música no rádio, enquanto faz outra coisa. A música no rádio vem com algum comentário, fala-se do artista, do sucesso do momento ou da lembrança que a música traz, sempre um contexto, uma moldura para a música, uma familiaridade, como alguem que conhecemos e que conversa conosco. Penso nisso em oposição aos novos modos de consumir música, através de aplicativos no computador ou no celular, que são impessoais por mais que nos conheçam. Eu sou um tecnocrata e sei do que estou falando.

Temos experiências bem recentes mostrando que o rádio pode tecer e unir uma comunidade, especialmente da cena musical, envolvendo todos os participantes, artistas, mediadores e público, de uma forma que fortalece  e projeta essa cena musical. A onda dos artistas do Pará foi criada a partir de uma radio pública, a Funtelpa FM, que  gravava e punha no ar os artistas locais. Bastava a audiência pedir e ouvia de novo, dai vinha a popularidade, os artistas ganhavam destaque e a partir deste inicio alcançaram reputação nacional.

Aqui perto de nós, em São Carlos, a UFSCAR FM, uma radio universitária conseguiu criar audiência e relevo com uma rica programação envolvendo dezenas de programadores amadores fazendo programas semanais de suas especialidades e um sábio mix de músicas, com um ciclo de uma nova, uma velha e uma internacional. Hoje fazem parte do circuito das bandas e tem um festival importante na América Latina e no Brasil.

Por isso o rádio pode ser tão importante para a música que acontece hoje aqui. São Paulo não nos parece, mas é uma Cidade da Música, uma das mais importantes do mundo, tanto pela produção quanto pelas múltiplas audiências da música ao vivo. Temos dezenas de casas de música autoral, centenas de festas de todos os matizes, os grandes festivais do mundo convergem para cá; temos os clássicos de qualidade mundial e também os novos gêneros arrastando multidões no funk. Os novos artistas do Brasil inteiro vem consolidar suas carreiras aqui, e daqui saem para fazer turnês pelo mundo todo, artistas brasileiros de São Paulo.

Ironicamente, apesar desta pujança na música ao vivo, que deve crescer muito ainda, nada disso toca nas radios daqui. Nada de variedade, nada do que queremos. O grosso da programação está comprometido com um único gênero, o sertanejo pop de mil caras, por uma questão comercial.

Talvez, como Mário de Andrade já queria, precisemos de uma Rádio Municipal, que seja educadora e cultural, paulistana, jovem como sua população, imersa neste fluxo de talentos e criatividade que não para, não para. Uma rádio que ouça os seus ouvintes e nos mostre os saraus, as batalhas, o choro, esse tanto de música instrumental e autoral, as bigbands, rock, jazz e samba, o experimental, os esquecidos dos anos 80, dos 90, o violão brasileiro, as cantoras, que explique que Teló é chamamé, uma rádio que saiba que os grandes produtores, as parcerias e colaborações com o mundo todo mostram São Paulo em alto relevo. AM, FM e Web, afinal, todo o mundo quer ouvir isso.

Pena Schmidt em seu Blog Peripécias do Pena. 

Augusto José Botelho Schmidt é produtor musical, foi executivo de gravadoras e superintendente do Auditório Ibirapuera. É diretor geral do Centro Cultural São Paulo.

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