Projetada por Paulo Mendes da Rocha, casa dos anos 60 foi laboratório modernista

Construída em um lote de esquina com 760 m², a residência é uma caixa de concreto elevada do solo sobre pilotis, que cria uma área livre com 250 m², utilizada para o abrigo de carros e dependências de empregados. O número de pilares é reduzido, são apenas quatro, solução que não visava uma “ginástica estrutural”, mas a economia para as fundações que o solo encharcado e arenoso exigiria.

Todo o programa da casa se desenvolve no pavimento superior. Trata-se de um volume simétrico, com duas faixas contínuas, envidraçadas e protegidas por largos beirais. Estes elementos se destacam nas fachadas: um deles em especial, pelo prolongamento das vigas que formam o pergolado para a proteção, que se converte em elemento dotado de riqueza plástica.

Nas laterais, duas grandes empenas cegas, cada uma com 21 m, foram sobrepostas ao volume inferior e apoiadas laje de cobertura. Uma delas “espia” pela janela assimétrica, um recurso que atrai o olhar de quem espreita a casa.

Totalmente aberta para a rua, a casa tem a altura do térreo dada pelos pilotis.

O térreo da casa é uma praça que combina concreto e jardim.

A saleta íntima tem decoração despojada, sem qualquer excesso.

Na cozinha, assim como em todos os espaços da casa Butantã tudo remete aos anos 60.

O conceito de continuidade espacial aparece nos ambientes que apresentam fechamentos "fluidos".

A ambientação da suíte principal acompanha a atmosfera e o conceito dos demais espaços da casa Butantã.

Vocação moderna

Saudada como “a nova planta do habitat moderno”, a casa Butantã subverte todos os princípios há muito consagrados como componentes da casa tradicional, procurando a “confraternização explícita”. Assim, seus dormitórios são postos no miolo da construção – portanto, sem dispor de insolação direta dada pelas claraboias. As áreas de convívio são periféricas e recebem luz e ventilação diretas.

Há duas varandas: a mais estreita (três metros) é para uso informal e a mais ampla abriga os ambientes de estar com lareira suspensa, refeições e escritório (5,5 m), com seu “mobiliário imprescindível”, em concreto. Tal disposição elimina os corredores que invariavelmente separam as funções íntimas, sociais e de serviço.

Outra premissa básica é a continuidade espacial, caracterizando um modo de vida muito particular. Especialmente na solução dada para os cinco dormitórios (quatro deles com dimensões mínimas de 2,25 m), onde as delgadas divisórias de concreto não encostam no vigamento da cobertura e os fechamentos voltados para a sala de entretenimento são feitos com portas-veneziana de madeira. 

A solução criou uma fresta com a altura da viga. “Lembro que, quando criança, ouvia, do meu quarto, as conversas dos adultos que se reuniam na sala”, conta Lito; referindo-se ao som que passava pelo vazio. Eram vozes não só de familiares, como de intelectuais, artistas, músicos que frequentavam a Casa Butantã e discutiam os rumos da sociedade brasileira.

 

 

A distribuição modernista dos ambientes da casa Butantã, acaba por subverter o jeito tradicional de pensar a casa. Imagem: Arte UOL

Ficha técnica

Casa Butantã, São Paulo (SP).

Projeto de Paulo Mendes da Rocha.

  • Área do Terreno 670 m².
  • Início do Projeto 1964.
  • Conclusão da Obra 1967.
  • Projeto Paulo Mendes da Rocha e João De Gennaro.
  • Projeto de Arquitetura Paulo Mendes da Rocha.
***
 Por Ledy Valporto Leal / Colaboração para o UOL, de São Paulo. Fotos: Leonardo Finotti / UOL.

 

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