E lá se vai a semana mais espontânea do ano. Lá se vão as cores das avenidas preenchidas por ricos e pobres, negros e brancos, velhos e crianças. Lá se vai a diversão sem distinção de credo, sem hora para começar ou acabar.
A festa termina, mas todos continuam a se fantasiar. Pena que os “disfarces” não são tão alegres assim. Não são tão democráticos assim. Não são tão felizes assim.
Agora, e pelo resto do ano, as cores das avenidas são substituídas por fumaça e por barulho. Por moços fantasiados de advogado, de médico, de office boy e de motorista. Por moças se equilibrando em saltos e desfilando em calçadas quase intransponíveis. Mais do que pelas fantasias do dia a dia, as ruas serão novamente preenchidas pelos personagens que cada um encarna para viver.
Mas será que estes personagens precisam mesmo permear nosso dia a dia? Para ser um profissional respeitado é preciso ser tão sério? É preciso não dar bom dia e ignorar o rapaz que te entrega o ticket do estacionamento?
Porque só brincamos com o gari quando estamos no meio do bloco? Porque só damos um “alô” pro guarda quando estamos fantasiados de “homem da lei”? Porque tanta alegria durante uma única semana do ano?
Aaaah! Que bom seria se toda a leveza do carnaval transbordasse por todos os outros dias. Que bom seria se não houvesse distinção. Se todos se misturassem e se divertissem e se respeitassem em qualquer lugar, a qualquer hora.
Que bom seria se durante todo o ano vestíssemos o espírito do carnaval!
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