Vem chuva!!!

As entidades e órgãos que acompanham essa questão já alertam que, caso não chova bastante nos próximos dias e semanas, o país pode viver a mesma seca severa que assolou Portugal há dois anos, quando muitos animais morreram e as barragens tiveram seus níveis de água reduzidos drasticamente. Em fevereiro, 57% do território português já estava, oficialmente, em condição de seca moderada. Outros 5% viviam seca severa, segundo as autoridades. Em entrevista ao jornal Público, o presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável chegou a afirmar que Portugal “está a ficar com o clima próximo de Marrocos, da Argélia ou da Tunísia”. E os dados reforçam essa percepção: o mês de janeiro, por exemplo, foi o mais seco dos últimos 19 anos. Na ocasião, os bombeiros foram obrigados a fazer quase 200 abastecimentos de água com caminhões, número 49% maior do que o apresentado em dezembro de 2018. Em algumas aldeias, a necessidade de fornecimento de água em carros-pipa se estendeu até o mês de fevereiro.

Um acompanhamento feito entre os anos de 1960 e 2010 aponta que chove cada vez menos em Portugal. A redução, em média, é de 30 a 40 milímetros a cada 10 anos. Essa tendência pode seguir sem alteração se não houver chuvas abundantes nos próximos meses. Sem chuva, as bacias portuguesas também começam a secar: muitas apresentam o menor nível de armazenamento de água dos últimos 30 anos e algumas estão com menos da metade da capacidade. Segundo dados do Ministério do Ambiente e da Transição Energética (MATE), os níveis de todas estão abaixo dos valores de 2018. No rio Tejo, a quantidade de água que chegou desde o início do ano à Barragem do Fratel é menos da metade do que o registrado nos mesmos meses de 2017 e 2018, quando o volume de água já tinha sido considerado baixo. Ainda de acordo com o ministério, também a bacia do Douro está com volumes reduzidos: 62,9%, contra os 83,9% de 2018 e ainda abaixo dos dados de 2017 (66,4%). Outras bacias importantes, como a do rio Lima, apresentam os menores valores dos últimos três anos.

Níveis de água das barragens do Alto Minho “preocupantes mas não dramáticos”. Foto: SAPO.

Diante deste cenário, o grupo interministerial que gere o tema da seca já começa a definir algumas medidas restritivas, que vão da proibição do uso da água em algumas situações, como a rega e a lavagem de ruas e calçadas (nada que já não tenhamos, infelizmente, vivido no Brasil…) à redução da pressão da água nas torneiras. Porém, apesar de o assunto estar na pauta do governo e de ONGs, os produtores de gado e agricultores já manifestaram a preocupação com possíveis prejuízos no campo. Algumas associações chegam a dizer que será o “ano mais difícil de todos”. Produtores de arroz da região de Setúbal estimam uma quebra de 20 a 25% na safra, caso não haja qualquer mudança no nível das barragens e quantidade de chuva.

Mas se por um lado a água parece minguar para algumas atividades, há outros setores consumindo cada vez mais. Relatório anual divulgado na semana passada pela ONG CDP (Disclosure Insight Action) aponta que as maiores empresas do mundo estão usando cada vez mais água, apesar de reconhecerem os riscos associados a esse consumo. O levantamento foi feito com 800 empresas, globalmente. De acordo com o levantamento, houve um aumento de 49% nas empresas que relataram um elevado consumo de água, entre 2015 e 2018. O estudo mostra também que a água – ou a falta dela – está classificada como um dos principais riscos para o negócio de 75% destas empresas. Ou seja, consomem cada vez mais, mas sabem do risco que a falta da água fará.

Relatório da ONG CDP (Disclosure Insight Action) aponta que as maiores empresas do mundo estão usando cada vez mais água. Foto: Getty Images.

Eu, que já vivo minha segunda primavera em Portugal, acho mesmo que peguei mais chuva no ano passado. Ok, não é um acompanhamento consistente e tem muito mais de “achismo” do que de alguma metodologia séria. Mas não é aceitável que a gente deixe de fazer a nossa parte: não sei fazer chover, mas posso (e faço!) ficar de olho no tempo do banho, na louça lavada e por aí vai.

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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