Caetano entrou na dança

Letrista criativo, ele sempre soube muito bem escolher as palavras, construir rimas incomuns e encadear ideias, as quais, através da sua voz inconfundível, tornaram-se manifestos representativos de vários momentos da nossa história recente.

Dois exemplos: “Sampa”, música romântica, composta em 1978, que retrata com visão crítica as doçuras e as contradições da maior cidade brasileira nos tempos em que a censura perseguia a produção cultural sob as ordens do regime militar; e “O Estrangeiro”, de 1989, que mistura diferentes percepções de personalidades internacionais como Paul Gauguin, Cole Porter, e Claude Lévi-Strauss sobre a Baía de Guanabara que, segundo o próprio cantor, é “bela e banguela”.

Com um repertório sob medida, que mescla sucessos e canções menos conhecidas, o Balé da Cidade de São Paulo – que comemora 50 anos -, sob a direção artística de Ismael Ivo, concebeu o espetáculo “Um Jeito de Corpo – Balé da Cidade Dança Caetano”, em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo. A criação é de Morena Nascimento, que foi integrante da companhia Tanz Theater Wuppertal, de Pina Bausch e faz sua estreia no Balé da Cidade.

Em pouco mais de uma hora, os mais de trinta bailarinos com os seus corpos quase elásticos, se movimentam no palco em coreográficas impactantes, as quais nos convidam a refletir como estamos e quais os caminhos que percorremos como nação.

É impossível não sair tocado de lá. “Um Jeito de Corpo – Balé da Cidade Dança Caetano” tem uma intensa liberdade poética. O entrosamento entre as canções e cada uma das coreografias é perfeito. A trupe dança de maneira despojada, solta, leve, como se estivesse se apresentando à vontade nas calçadas desta cidade. A produção não é autobiográfica, nem uma tentativa de retratar um momento histórico da vida do Caetano. 

Com apoio da trilha sonora, mais do que mostrar via distintas expressões corporais um pouco dos percursos que nos trouxeram ao que somos hoje, Um Jeito de Corpo nos oferece a possibilidade de olhar para nós, e de resignificar as nossas referências, a fim de que, se quisermos e com coragem, tenhamos condições de fazer outras escolhas e, quiçá, construir outro Brasil sob novas direções. Por aqui, fico. Até a próxima.

Serviço

“Um Jeito de Corpo – Balé da Cidade Dança Caetano”
Idealização e conceito geral: Ismael Ivo.
Coreografia: Morena Nascimento.
Theatro Municipal de São Paulo –
Praça Ramos de Azevedo, s/n – República, São Paulo, SP. 
(11) 3053-2100.
Em cartaz até 25/03/2018.

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Leno F. Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Escreve às terças-feiras no São Paulo São.

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