Na semana (no dia) da inauguração da ciclovia da avenida Paulista, o Bike é Legal relembra o histórico de luta e ativismo para garantir o espaço da bicicleta na mais importante via da cidade de São Paulo. Em 2009, a ciclista Márcia Prado foi atropelada e morta por um motorista de ônibus na avenida. A “ghost-bike” instalada como forma de homenagem e protesto permanece no local até hoje.
A jornalista, fotógrafa e ciclo-ativista Renata Falzoni conta:
Há seis anos, a ciclista Márcia Prado foi atropelada por um ônibus na avenida Paulista, de forma covarde e uma das coisas que mais chamou a atenção foi o motorista na TV dizendo que “só percebeu ter atropelado alguém quando sentiu o tranco na roda traseira do ônibus” e que estava de “consciência limpa”!
No dia seguinte a esse assassinato fui convidada pelo repórter e apresentador Eduardo Elias dos Canais ESPN para participar do Sportcenter. Assista aqui a matéria: https://youtu.be/w7JFfHsgYEc
Saí dessa entrada ao vivo e fiquei trancada em casa por uns 15 dias, impossibilitada de trabalhar ou mesmo de pensar. Entrei em depressão pois a proximidade que tínhamos – temos com Márcia Prado – nos fez sentir nós próprios mortos, esmagados no asfalto em plena Avenida Paulista, vítima de uma guerra civil, onde aceita-se como “normal” o motorista dizer-se de “consciência limpa” e as autoridades de trânsito continuarem a relegar a mobilidade e segurança dos cidadãos a um segundo plano, para garantir mais fluidez aos cidadãos motorizados.
A Avenida Paulista é símbolo dessa discrepância: Enquanto 1 milhão e meio de cidadãos por ela passam todos os dias a pé, apenas 60 mil cidadãos por lá circulam a bordo de 50 mil carros particulares. A velocidade permitida aos veículos motorizados é de absurdos 70 km por hora, enquanto um pedestre leva mais de 5 minutos para atravessar a avenida e trocar de calçada, pois não há faixas de pedestres na diagonal.
Permitir 70 km/h em uma avenida com um semáforo a cada 100 metros e milhões de pedestres nas calçadas é incompatível com a vida, serve apenas para acostumar o motorista a buscar alta velocidade de forma irresponsável. Detalhe, a fluidez não é determinada pela velocidade máxima e sim pela velocidade média assim não há o que justifique tal estupidez!
As chances de sobrevida a um atropelamento a 70km/h é próxima de zero!
Não acredito que esse motorista de ônibus estivesse a 70 km/h mas de duas uma:
Ou ele “viu e não enxergou” a ciclista, mais um ato falho tido como “normal”, pois como a CET não cobra a preferência para com os pedestres e os ciclistas, nós somos “vistos e ignorados” mesmo, com anuência das autoridades focadas na fluidez dos automóveis; ou o motorista viu sim e tirou uma fina de propósito para assustá-la, uma prática comum na criminosa intenção de “punir” aqueles que pretendem dividir o espaço público conforme reza a lei.
Fonte: Bike é Legal.