Coisas que tenho aprendido sobre o tempo

A primeira coisa que eu descobri é que o tempo é igual ao joelho. Com sorte, você não vai se lembrar dele até os 40 anos, mais ou menos. Durante a infância e a juventude, o tempo e o joelho são indolores. Como o joelho, a gente só sente o tempo quando começa a doer.

Tenho 49 anos e nunca tinha me preocupado com a passagem do tempo antes. Quando a gente é criança ou adolescente não fica olhando para trás, né? A gente vive, simplesmente, às vezes ligado no futuro, mas totalmente desligado do passado – a não ser por traumas, raramente por nostalgia. Depois dos 40 é que o tempo passa a ser uma questão.

Dentro da gente, o tempo do tempo é outro e cada um tem o seu. Tanto é que é mais fácil enxergar que o tempo passou no outro do que na gente mesmo. Por dentro, é possível ter 20 anos para sempre ou ser sexagenário aos 17. O tempo de fora só encontra com o de dentro quando morre alguém que a gente ama.

A saudade é diretamente proporcional ao tempo: quanto mais tempo a gente vive, mais saudade a gente sente. Viver mais é superar o desafio de conviver diariamente com a ausência dos seres queridos.

Mesmo que, por dentro, o tempo só passe se a gente quiser, inevitavelmente a infância fica cada vez mais longínqua. Não temo as rugas, os cabelos brancos algum dia assumirei, mas pensar que poderei, no final dos dias, não recordar minha infância me apavora.

O tempo, ao contrário da crença geral, não faz todo mundo ficar mais sábio e sim mais verdadeiro consigo mesmo. Acho que a “sabedoria” surge justamente daí, de se dar o direito de ser o mais verdadeiro consigo mesmo possível.

A juventude passa lentamente e a idade madura passa rápido. Mas quando a gente chega à idade madura tem a sensação de que tudo passou rápido, e rápido demais. Aquela sensação de “parece que foi ontem” é constante.

O tempo é muito relativo e pessoal. Tem gente que pensa em envelhecer para se aposentar. E tem gente que só enxerga a velhice trabalhando. Eu sou assim.

Num mundo ideal, a aposentadoria não deveria ser por idade, mas de acordo com o pique de cada um. Eu, por exemplo, gostaria de ter estado “aposentada” até os 30 e ter começado a trabalhar a partir daí. Agora estou a mil e não penso em parar tão cedo. Sinto que, em movimento, o tempo faz o cérebro da gente ficar mais e mais afiado. E que, parado, ele perde o fio.

O bom do tempo é quando ele é sinônimo de aprendizado, e isso não tem tempo para acabar.

***
Cynara Meneses é jornalista com passagens pelo principais veículos da imprensa. Mantém e edita o blog Socialista Morena onde este texto foi publicado originalmente.

 

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