Em Porto Alegre, bairro chamado Tristeza é destaque em conscientização sobre o suicídio

Cartazes com fundo amarelo com os dizeres “nós queremos mudar o nome da Tristeza” e o endereço do site da campanha foram colocados pelo bairro e uma página no Facebook foi criada. O site, porém, não explicava maiores detalhes sobre a ação nem sobre seus proponentes, apenas direcionava para um abaixo-assinado e divulgava um evento, realizado sábado, na Praça Souza Gomes. Foi neste encontro que os objetivos por trás da ação foram revelados: trata-se de uma forma de conscientizar sobre suicídio, fazendo uma relação com o nome “Tristeza”.

Antes de saberem o motivo da campanha, moradores do bairro criaram a página e o abaixo-assinado “Não vai mudar, a Tristeza está feliz assim”, em que defendem a permanência do nome. A petição contrária à mudança já conta com mais de 1.300 assinaturas, enquanto a favorável tem apenas 98. Idealizador da campanha “Não vai mudar”, Juliano Garcia conta que sua família mora no bairro há 100 anos — há, inclusive, uma rua com o nome de seu bisavô — e não vê motivos para a mudança. “99% dos moradores são contra a mudança, mas estou ciente que para mudar um nome de qualquer bairro já existente é um processo muito moroso e burocrático junto à Prefeitura e à Câmara de Vereadores. O tempo mínimo é de 2 anos”, aponta.

Uma das hipóteses iniciais levantadas pelos moradores era de que a troca de nome teria relação com a construtora Maiojama, que está realizando empreendimentos na região. Isso, porém, já havia sido desmentido pela empresa, que garantiu não ter nenhuma relação com o movimento.

Localizado na zona sul de Porto Alegre, o Tristeza foi criado em 1959, e o nome seria originário de um dos primeiros habitantes do local, José da Silva Guimarães, que seria conhecido como “Seu Tristeza”. Na época, a região era majoritariamente rural e pouco habitada, com a chácara de Guimarães sendo uma das principais referências. Ele teria ficado triste após sua filha casar e se mudar do local, o que lhe deu o apelido.

A campanha “Muda Tristeza” divulgou, nos últimos dias, a realização de um encontro presencial para debater o assunto, na Praça Comendador Souza Gomes, ponto central do bairro. A capa do evento convidava: “Precisamos falar sobre a Tristeza”. Essa frase, assim como a cor amarela utilizada para a divulgação, levantaram a suspeita de que o evento seria parte de alguma campanha pelo Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. “Parece ser uma forma de atrair a atenção de todos sobre suicídio. Até, se tu fores ver a maneira que está nos cartazes e no site deles, está lá: ‘vamos falar sobre a Tristeza?’”, chegou a considerar Juliano.

A suspeita foi praticamente confirmada com a divulgação, pela página do Centro de Valorização da Vida (CVV), de um convite utilizando as mesmas cores e fontes do que o material da campanha, chamando para o encontro neste sábado. “Setembro Amarelo é uma campanha mundial de conscientização e valorização da vida, com uma atenção especial para o dia 10 de setembro – Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio”, explica o flyer. Esse convite, porém, não faz menção à campanha da Tristeza. Ao mesmo tempo, a “Não vai mudar” criou seu próprio evento, para o mesmo dia e local, convocando os moradores contrários à mudança para entender do que se trata a campanha.

O problema, porém, é que a campanha já causou inimizades dentre os moradores do bairro, mesmo se tratando realmente de uma ação de conscientização. “Valorizar a vida depreciando o nome de um bairro? Petição em site sério? Afinal, qual o objetivo de tudo isso? Por que não vieram a publico explicar? Só sábado poderão se expor?”, questiona uma moradora do bairro, em postagem na página “Não vai mudar” sobre a possibilidade da campanha ser vinculada ao CVV. Ao mesmo tempo, outros apontavam que a divulgação do Setembro Amarelo pelas páginas oficiais do Centro de Valorização da Vida utilizava um design diferente, duvidando da relação entre as duas coisas.

Débora Fogliatto em Sul21.

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.