Já faz tempo que a energia do medo rege a vida do País. Medo de andar na rua, medo de sair de casa, medo de brincar, medo de sorrir, medo de se divertir, medo de pensar, medo de agir, medo de conviver, medo de abrir os olhos, medo de dizer não, medo de falar, medo de protestar, medo de apanhar, medo de gritar, medo de cantar, medo de namorar, medo de fazer amor, medo de dar uma flor, medo de aprender, medo de ir à escola, medo de pensar, medo de dizer a verdade, medo torcer, medo de celebrar um gol, medo de olhar em outras direções.
Sabemos que ter medo é da vida e há situações em que o medo, quando identificado e mensurado, nos protege e pode até nos mobilizar e nos fortalecer para enfrentá-lo adequadamente. Entretanto, o medo generalizado, se transformou em produto rapidamente incorporado com alarde pela grande mídia, principalmente a sensacionalista, que na ausência de criatividade inunda a programação, em destaque a jornalística, para criar um estado de pavor.
Apavorado e com o medo, os cidadãos se desesperam. Evitam sair de casa e desconfiam até do poste. Perdem a esperança, ficam paralisados, e deixam de nutrir sentimentos positivos e de enxergar muitas coisas boas que diariamente acontecem ao nosso redor.
Sem o medo industrializado, talvez tenhamos a possibilidade de nos conhecermos e nos olharmos com mais respeito, doçura e tolerância. Quiçá será mais fácil conviver e ocupar as ruas, as praças, os espaços públicos de forma plena. Valorizar o coletivo, o fazer juntos, a construção de pontes que integrem o centro e as periferias; que nos permita circular por todos os cantos da cidade, cumprimentar os vizinhos, o padeiro da esquina, a costureira da rua de baixo, e o dono da farmácia que há mais de 10 anos almoça no restaurante ao lado da casa lotérica, que pertence ao pai do melhor amigo do seu filho. Por aqui, fico. Até a próxima.