Há objetos que, mesmo produzidos com alta tecnologia, segundo um projeto específico e em escala industrial, apresentam-se aos nossos olhos com a força das obras de arte, únicas e manufaturadas. Colocam-se na relação com o observador mais como ‘sujeitos’ do que como ‘objetos’, surpreendendo por sua originalidade, emocionando por uma beleza única e instigando por subverterem padrões existentes. Esses objetos nos tiram de uma certa zona de conforto e exigem de nós um novo olhar e uma nova reflexão sobre aquilo que pensávamos conhecer.
Os tapetes criados pelo Henzel Studio são assim – questionam, testam e transcendem fronteiras que, muitas vezes, ainda persistem entre design (nesse caso, de interiores) e arte. O ponto de partida é um novo olhar sobre esse objeto, tão conhecido (?) de todos nós… E o resultado é invariavelmente arrebatador.
A empresa desenvolve projetos com designers do mundo inteiro.
Em 2013, o coletivo AVAF (Assume Vivid Astro Focus), formado por Eli Sudbrack (carioca radicado em São Paulo) e Christophe Hamaide-Pierson (francês que vive em Paris), criou para o Henzel o incrível ‘Ancient visions always freeze’, poética leitura sobre o desenvolvimento imobiliário na cidade de São Paulo. Com formas livres, cores vivas e alturas variáveis por blocos, o tapete mistura arte e design, crítica e observação, beleza e inovação.
Não há dúvida de que, sem excelência técnica e alta qualidade de materiais, seria impossível materializar em lã traços e cores que mais parecem ter surgido de pinturas, grafites e aquarelas. Mas se esses tapetes falam à nossa alma é porque, por trás dessa excelência técnica e da qualidade dos materiais, uma outra alma se lançou a eles disposta a transformá-los num novo meio de expressão. Para tanto, questionou o convencionalismo, subverteu padrões, usos e finalidades, e com isso redefiniu não apenas um novo universo de cores, imagens e tratamentos para esse objeto, mas também a relação que podemos estabelecer com ele.
Inquietude, inconformismo e paixão são ferramentas fundamentais para abrir nossa mente e nosso coração, permitindo que nos lancemos ao novo. E nossa alma precisa do novo – (re)descobrindo formas, cores, usos e relações, podemos criar e desfrutar, a cada dia, de novas fontes de beleza e prazer.
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Valéria Midena, arquiteta por formação, designer por opção e esteta por devoção, escreve quinzenalmente no São Paulo São. Ela é autora e editora do site SobreTodasAsCoisas e sócia do MaturityNow.
*Texto editado e atualizado, a partir do original publicado no blog SobreTodasAsCoisas