Guilherme Coury pratica highline sobre a Avenida Sumaré, em SP. Foto: Guilherme Coury/Arquivo Pessoal.
“É uma sensação total de liberdade. É indescritível”, diz Guilherme sobre a adrenalina proporcionada pelo highline, uma versão “nas alturas” do slackline, a travessia por uma fita fixada em dois pontos criada nos Estados Unidos nos anos 80, e popularizada no Brasil nos últimos anos.
Em janeiro deste ano, Guilherme subiu ao topo da Ponte Estaiada, cartão postal de São Paulo, para uma travessia de 27 metros a 140 metros de altura do chão. Em outubro, um recorde pessoal: 250 metros de altura no Monte Roraima, na Venezuela. Ele também já estendeu sua corda nas alturas de pontos turísticos do Chile e da Chapada Diamantina.
“Eu faço muitas intervenções urbanas com o esporte. Costumo praticar em prédios abandonados, próximos de onde moro, em São Bernardo [do Campo], mas sempre busco pontos interessantes para fixar minha corda”, diz o atleta.
Coury faz slackline no Metrô Sumaré, na Zona Oeste de São Paulo. Foto: G1.
O que Guilherme fez no Viaduto Sumaré é, na verdade, proibido. Desde 2005, toda prática de esportes radicais no viaduto é vetada por lei pela subprefeitura da Lapa. Se flagrado pela Guarda Civil Municipal (GCM), o ato pode custar a apreensão do equipamento do praticante. Mas Guilherme não se preocupa com isso.
“O pessoal fala e tal [que é proibido], mas eu não vejo problema em ocupar um espaço público para a prática profissional de um esporte”, ele diz. “Ninguém veio dar bronca, nem me repreender. Só quem estava assistindo que, depois, veio me cumprimentar. Vi até uns funcionários do Metrô assistindo e curtindo.”
Na Sumaré, Guilherme fez foi a maior travessia de sua carreira “sem queda”, com 65 metros. A travessia mais longa foi de 130 metros, com algumas quedas, “entre dois dos prédios em que treino”.
Quando alguma coisa dá errado, o susto da queda é maior para quem assiste do que para o atleta. “Para mim é normal. Você cai e fica pendurado uns 1,5 metro abaixo da linha da corda. Aí, usa a própria corda de segurança pra ficar em pé novamente e continuar a travessia.”
Em grandes alturas, Guilherme usa uma cadeirinha de segurança feita com equipamento de escalada certificado internacionalmente. “Não tenho medo de dar algo errado com o equipamento, porque confio nele e na forma como o fixamos. A vontade de fazer acontecer e me superar é maior que meu medo.”
Coury relaxa em rede no monte Roraima, na Venezuela. Foto: Victor Rodrigues / Arquivo pessoal.
Hobbie virou profissão
Ainda sem experiência em esportes radicais, Guilherme decidiu se aventurar no slackline há quatro anos. Um ano depois, já fez sua transição para o highline, surpreendendo quem pensa que a modalidade requer anos e anos de prática. Hoje, atua profissionalmente na área.
“Hoje em dia é muito mais fácil um praticante de slack fazer essa transição”, explica. “Eu sempre busquei estar com os atletas que já praticavam, tive oportunidade de conhecê-los e conviver com eles, e assim pude pegar o conhecimento necessário com rapidez.”
Para ele, a troca de experiências entre novatos e veteranos é o segredo pra avançar no esporte com velocidade e segurança. “A pessoa pode se machucar até fazendo o slackline tradicional, a 30 centímetros do chão. É a falta de orientação que oferece perigo, não a prática.”
No ano que vem, Guilherme tem planos de visitar a Europa. Seu maior sonho, no entanto, está nos Estados Unidos: “Pela tradição, meu sonho é fazer um slack no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, que foi o berço da prática”.
Coury em rede montada sobre vale, no Chile. Foto: Arquivo pessoal / Guilherme Coury.
Do G1 São Paulo.