Música multissensorial: conheça as bandas que exploram outros sentidos musicais

Um exemplo universalmente conhecido, até pelos não apreciadores da música clássica, é a surdez do compositor alemão Ludwig van Beethoven, que o acompanhou por bons anos de sua carreira como compositor, não o impedindo de compor a mais excepcional das sinfonias de todas as épocas, a “Nona Sinfonia” composta em 1824. Teria o silêncio total dos ouvidos proporcionado a condição ideal para a criação da grande beleza de suas obras?

Mesmo diante da obra de Beethoven, a música continua ainda, diretamente relacionada com o sentido da audição, sendo que a surpresa costuma ser o sentimento unânime gerado quando se anuncia apresentações de cantores que utilizam outros recursos da linguagem musical. Um movimento de criação de outras formas de música e arte está ganhando força mundialmente e chega ao Brasil para afinar os ouvidos para as diferentes experiências sensoriais na música.

Na última semana, nos dia 13 e 14/07 desembarcou em São Paulo, no SESC Belenzinho, Signmark, o rapper finlandês surdo que se comunica por meio da ASL (Língua de Sinais Americana) e dividiu o palco com mais dois cantores ouvintes e um DJ que sintonizava as caixas de som que faziam vibrar até o dedinho do pé.

Imagem: Reprodução / Sesc.

Signmark levantou a platéia surda com sua interpretação das músicas em sinais, linguagem corporal expressiva e envolvente. Essa apresentação musical faz parte do  programa Poéticas do Acesso, uma curadoria idealizada pelo SESC Belenzinho que enxerga a acessibilidade como processo criativo, além de sua função como recurso.

 Signmark: finlandês, rapper e surdo, em apresentação no Sesc Belenzinho. Os shows dele são bilíngues: sinalizado em ASL (Língua americana de sinais) por ele, e cantado em inglês por Chike Ohanwe. Foto: @_meninabonita no Instagram.

Os conjuntos nacionais formados por pessoas com deficiência auditiva estão se espalhando, cada vez mais, pelo país, desafiando a mentalidade de que pessoas surdas não fazem música. Os grupos Sordodum, Ab’surdos, Batuque de Surdo e Batuqueiros do Silêncio, são bandas de diversos ritmos e vozes, formadas por surdos e ouvintes que se uniram para explorar a inclusão de outros sentidos à música e divulgar pelo país as infinitas possibilidades do surdo como ser musical.

Em show de Liniker, Leonardo Castilho faz tradução em Libras no Palco Sunset do Rock in Rio. Foto: Divulgação.

Outra iniciativa de exploração da surdez como possibilidade de atribuição de outros sentidos às palavras, é o Slam do Corpo, primeiro Slam (batalha de poesias, jogo, celebração) formado por surdos e ouvintes do Brasil. Nesses encontros, duplas de poetas (um surdo e um ouvinte) se apresentam ao mesmo tempo em português e Língua Brasileira de Sinais, promovendo um encontro entre línguas.

Batalha "slam do corpo". Foto: Instituto Tear.

O uso da interpretação de libras como recurso de acessibilidade em apresentações musicais, já está mais difundido pelo país e ganhando notoriedade nacional devido a sua utilização nas últimas edições de grandes festivais de música, como o Lollapalooza, o Rock in Rio e a Virada Cultural de São Paulo. Música não se restringe ao som, essa é uma das principais mensagens deste movimento pela inclusão de novas formas de ouvir e sentir na música. Que a beleza inaudível de Beethoven continue nos inspirando!

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Isa Meirelles é relações públicas e coach certificada pelo Instituto Brasileiro de Coaching. Atua como consultora de comunicação inclusiva e tem como propósito de vida o fim da invisibilidade das pessoas com deficiência na sociedade, por meio da comunicação. Isa escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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