Ainda não se sabe quais itens estão preservados depois de 71 anos sob as águas do mar, mas envolvidos no projeto almejam recuperar âncoras, leme e utensílios como metais e louças.
O acervo encontrado será exposto em Moscou e outras cidades russas e deve desembarcar em 2017 no porto de Paranaguá, no Paraná.
O termo de cooperação científica para viabilizar a empreitada foi assinado neste mês pela Sociedade Geográfica Russa e o Itapar (Instituto Tecnológico e Ambiental do Paraná), órgão que ficará responsável pela guarda do material.
Segundo Acef Said, presidente do instituto, o destino final das peças ainda será definido com a comunidade japonesa no Brasil, mas algumas certamente serão enviadas a São Paulo e Curitiba, nos Estados que receberam maior número de imigrantes.
Sonho
Buscar a âncora do Kasato Maru é sonho antigo da comunidade nipônica, conta Said. Em 2005, perto do centenário da imigração, deputados federais descendentes buscaram ajuda da Rússia, onde o navio afundou. As tratativas, no entanto, não avançaram na época.
Em 2011, teve início uma nova tentativa de tornar a ideia realidade. De acordo com Said, que fez a interlocução para o resgate, foi o embaixador russo Serguey Akopov o responsável por encontrar a solução.
A alternativa foi ir além do caráter histórico e tornar o projeto uma expedição científica, que aproveitasse para estudar, por exemplo, biologia marinha e efeitos do aquecimento global.
Com este viés de pesquisa, foi possível que assumisse a expedição a Sociedade Geográfica Russa, entidade que tem como membro o presidente Vladimir Putin, além de navios e equipes de mergulho acostumados a pesquisas do gênero.
A intenção é envolver estudiosos dos dois países. Segundo o primeiro-secretário da embaixada, Yuriy Mozgovoy, os custos da expedição ainda serão estimados.
“Foi uma decisão [da Rússia] por razão humanitária, cultural, de apoiar uma parte da população brasileira que fez esse pedido e de realizar esse sonho. Por que não?”, disse Mozgovoy.
O gesto dos russos agrada brasileiros e japoneses.
“É um navio muito simbólico para nosso imigrante porque foi o primeiro. Vários vieram depois, mas ele foi o pioneiro”, afirmou o cônsul Jiro Takamoto, do Consulado-Geral do Japão em São Paulo. O órgão estima em 1 milhão o número de descendentes no país.
Do começo ao fim
Por uma coincidência da história, a Rússia, mais uma vez, será personagem-chave na trajetória do Kasato Maru. É que foram os russos que compraram o navio, o afundaram duas vezes e, agora, irão resgatá-lo.
Adquirido de um estaleiro em Newcastle, no Reino Unido, em 1900, o navio nascido Potosi foi rebatizado de Kazan. Cinco anos depois, em uma batalha com japoneses, os russos, derrotados, decidiram não deixar a embarcação para os inimigos e a afundaram antes de fugir.
O Japão, porém, resgatou e consertou o navio. Depois, a embarcação foi incorporada à marinha imperial.
Em junho de 1908, o Kasato Maru desembarcou no porto de Santos (SP) com as primeiras famílias japonesas contratadas para a agricultura, em acordo feito entre os dois governos.
Em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, o navio afundou após ser bombardeado por aviões russos perto da península de Kamchatka.
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Por Juliana Coissi de Curitiba para o caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo.