_ Oh! Desculpa cara, estava disparando um email marketing, e acho que a máquina que eu usei falhou na hora de trocar os nomes.
_ Entendo. _ O que é isso que você me enviou?
_ É o meu programa de desenvolvimento de pessoas.
_ Para o que serve?
_ Serve para várias coisas, mas fundamentalmente para quem quer ou precisa transformar a vida.
_ Então não serve para mim.
_ O que te faz acreditar nisso?
_ É que eu não quero mudar, nem transformar minha vida.
_ Humm entendi, desculpa novamente.
_ Espera; querer mudar eu não quero mesmo, mas, parece que estou sendo obrigado.
_ E o que te faz acreditar nisso?
_ Não consigo pensar em nada que queira fazer, além do que na verdade, nem faço mais.
_ Poderia ser mais claro? _ O que é isso?
_ A fotografia. _ Tudo o que sempre quis fazer era viver de fotografia. Hoje nem faço e muito menos vivo disso.
_ Mas o que você faz agora?
_ Eu? Fotografia. Quero dizer, fotografia? _ Não, não faço.
_ É mesmo? E o que te impede de fazer então?
_ Não sei. _ Acho que as coisas mudaram . _Tenho mais de cinquenta, e isso já explica tudo.
_ Explica o quê?
_ Ah! Quando eu comecei minha carreira, fui trabalhar num dos jornais mais importantes do Brasil. _ Comprei um equipamento, fiz um portfólio e sem muito esforço lá estava eu: fotojornalista.
_ Na minha cabeça, eu poderia me tornar como muitos outros que admirava, viajaria por vários lugares, seria uma testemunha ocular como se dizia na época.
_ E isso aconteceu?
_ Sim. Prá você ter uma ideia, fui para o Japão acompanhar uma visita de presidente. _Viajei para o deserto do Sahara. _ Vixi, não gosto nem de lembrar porque sinto vontade de chorar.
_ O que te leva ao choro?
_ Pensar que isso não existe mais. _ Agora estou aqui e nem mesmo sei o que fazer com esse equipamento. _Não está rolando nada. _Prá você ter uma idéia, até fotografia de casamento eu já fiz. _ Mas não rola pra mim. _ Não consegui continuar.
_ Mas deixa eu entender uma coisa? _ O que te fez desejar ser fotógrafo?
_Humm, pra ser sincero, achava que seria dono do meu nariz, eu queria era o poder que a profissão prometia.
_ Acho que foi isso que eu sonhei._ E aí investi em criar uma vida desse jeito para viver.
_ E deu certo?
_ Reservadas as proporções sim.
_ Como assim?
_ Começa que nós estamos no Brasil. _Então viajar assim para todos os lados, não era muito o que rolava.
_ Depois a profissão não era somente de aventuras. _ Nem sempre estava no lugar de uma testemunha ocular.
_ Aliás, na maioria do tempo estava fotografando coisas menos interessantes.
_ Mas, mesmo assim você continuou?
_ O que você quer dizer com isso?
_ Quero dizer, que mesmo a vida profissional sonhada por você não sendo exatamente o que queria, você não mudou.
_ Sim. _ Espera. _ Podia ser que não tivesse assim tantas aventuras como eu havia sonhado, mas era boa. _ O problema é que fiquei velho.
_ Entendi.
_ Agora quem não entendeu fui eu. _ Porque você disse que entendeu?
_ O que você entendeu?
_ Entendi que você mesmo não realizando de fato seus desejos você considera que teve uma vida profissional muito boa, e que sente falta hoje. _ Foi isso que você me disse?
_ Putz, nem havia percebido. _ Mas sim, foi isso mesmo.
_ Acabei me adaptando ao trabalho, e pensando bem, foi um preço que decidi pagar para chegar perto de um sonho.
_ Valeu a pena?
_ Opa, valeu, com certeza!!!
_ Mas, e agora? _ O que te falta de verdade?
_ Porra!!! _ Agora não sei mais responder. _ Acho que preciso de um tempo para organizar minhas idéias!
_ Mas com certeza o que me faz falta é a juventude. Kkkkk.
_ O que te impede nesse momento de desejar alguma coisa?
_ Nada me impede. _ Eu acho.
_ Na verdade lá atrás quando quis ser fotógrafo, eu tinha um sonho, agora, depois de tanto tempo, tantas coisas, nem sei mais como eu poderia ter outro sonho.
_ Mas e você, só pergunta? _ O que você acha?
_ Eu acredito que quando sonhamos algo, o objeto do nosso sonho vem acompanhado de um sistema, um modelo e precisamos estar atentos para transformar o modelo sempre que necessário. _ Quando você decidiu ser fotógrafo, me parece, você tinha muito claro qual era o estilo de vida que queria ter, teu desejo estava voltado para as aventuras que a profissão prometia. Em função disso você construiu uma história profissional dentro na base não estava muito próxima ao seu sonho, exceto pela fotografia em si.
_ Não me enrola.
_ Não estou enrolando, só criando um raciocínio para te mostrar que quando criamos um desejo ou um sonho ele não vem isolado. E portanto investimos na criação de um sistema . E quando você cria um sistema você decreta um prazo de validade, e naturalmente caminha para um esgotamento. _Consegue entender?
_ Cabeção hein!!! _ Acho que sim. _ Porra, acho que você tem razão, mas, qual seria a saída? _ Começar tudo de novo?
_ Não sei, mas, porque você não começa fazendo um inventário de seus talentos e conquistas desenvolvidos durante esse período passado . _ Depois faz um inventário de suas falhas, faltas que você cometeu, os cursos que não fez. _ Depois escolhe o talento ou uma conquista que você considere o maior representante dessa época, e também a maior falha. Leia os dois e tente imaginar como esse talento ou acerto sendo colocado em prática hoje, poderia superar essa grande falha, abrindo novas oportunidades.
_ Entendeu?
_ Não. _ Pode explicar melhor?
_ Claro, não é simples, mas é básico: REENQUADRA!
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Adi Leite é coach, jornalista e fotógrafo.