Esses dias revi o filme The Sheltering Sky (1990), ou na adaptação brasileira, “O Céu Que Nos Protege”, uma novela de Paul Bowles, estrelado por Debra Winger (Kit Moresby) e John Malkovitch (Port Moresby) com direção de Bernardo Bertolucci.
A história se passa em 1949, logo após a segunda guerra. Um casal de americanos viaja pelo norte da África acompanhado por um amigo.
Apesar da trama não estar circunscrita apenas no triângulo amoroso que envolve o casal e o amigo, vou fazer um recorte muito pessoal onde o que pretendo é estabelecer um jogo entrelaçando o primeiro diálogo e a natureza dos personagens sob o ponto de vista do life coaching, com o intuito de trazer a tona uma reflexão sobre questões que envolvem o autoconhecimento.
“… Nós não somos turistas, somos viajantes.
– Qual a diferença?
– Turista é a pessoa que pensa em voltar para casa no momento em que chega em seu destino, enquanto o viajante não pensa na volta …”
Na definição dos personagens, o turista é aquele que está sempre pensando em voltar para casa enquanto o viajante está aberto ao mundo e suas possibilidades não importando a volta, sempre olha para a frente.
Quase como uma obviedade da condição humana a mulher se envolve com o amigo e a vértices do triângulo adquirem a tensão como elemento de ligação.
A percepção instaurada no marido de que a mulher possa ter se envolvido com o amigo cria um novo elemento ao filme. O fugitivo.
Num ímpeto passional o marido decide seguir juntamente com sua mulher por um caminho diferente do amigo. Passando a investir irracionalmente no desencontro.
Instaura então a natureza do fugitivo.
O medo.
O medo da perda.
O medo de enfrentar a realidade.
Vamos então trazer para nosso cotidiano essas definições:
O que seria o turista no dia a dia?
Pessoas que nunca assumem muito o que são ou o que fazem e estão sempre de olho em algo que as possibilite não estar em lugar nenhum, como se estivessem o tempo inteiro de olho no horário da saída da escola ou do trabalho e que no final do dia regressam para suas zonas de conforto; e, ao longo do tempo somam algumas frustrações pelo não realizado.
Os viajantes seriam aqueles que se entregam aos seus projetos, são capazes de criar um roteiro para suas vidas e acreditam que estão seguindo pelo caminho que os levará ao encontro de seu desejo.
Agora chegamos aos fugitivos. Quem seriam e como classificá-los?
Os fugitivos são os donos do não.
Eles até entram na viagem, compram as passagens, mas estão sempre vinculados a seus passados e consequentemente dizendo não ao presente.
Os fugitivos são a representação do medo que sabota o movimento.
A negativa é sua defesa. Não quero. Não posso. Não, não tem cabimento.
O fugitivo é o não da história.
Embasado em seus medos segue negando qualquer possibilidade de mudança mesmo quando elas já aconteceram. E assim se torna aquele que foi há muitos lugares, mas, ao regressar para sua casa, e sua bagagem é sempre pesada. Repleta de críticas.
E você? Qual seria o seu personagem?
Viajante?
Turista?
Ou fugitivo?
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Adi Leite é Life & Career Coaching certificado pela sociedade brasileira do coaching, fotógrafo e jornalista.