Tudo em quinze minutos: novas cidades para vencer os vírus e a mudança climática

Sua nova vida, a quinze minutos de distância. “Nossas cidades concentram o núcleo da atividade humana, mas continuam a ser impulsionadas pelo paradigma da era do petróleo”, é assim que o urbanista Carlos Moreno começa a desenvolver a teoria da cidade de quinze minutos que está circulando pelo mundo após a crise da Covid-19.

Depois de meses de confinamento, o debate sobre a pacificação das ruas e a estrutura de uma nova cidade se abriu mais do que nunca. A busca pela distância social pode levar os cidadãos a decidir usar seu próprio veículo para o transporte, uma iniciativa que Moreno se propõe a combater aproximando os destinos e tornando eficiente o transporte de bicicletas.

Paris está planejando mais espaços verdes para seus cidadãos. Foto: George Kourounis / Unsplash.

O conceito de Moreno “A cidade de quinze minutos: para um novo crono-urbanismo” foi utilizado pela primeira vez pela prefeita reeleita de Paris, Anne Hidalgo, durante a campanha eleitoral municipal em março passado. A então candidata francesa defendeu uma capital onde seus cidadãos não precisarão mais de um quarto de hora para chegar ao trabalho, ir ao parque ou fazer as compras. Sua nova vida, a quinze minutos de distância. “Nossas cidades concentram o núcleo da atividade humana, mas continuam a ser impulsionadas pelo paradigma da era do petróleo”, é assim que o urbanista Carlos Moreno começa a desenvolver a teoria da cidade de quinze minutos que está circulando pelo mundo após a crise da Covid-19. Após meses de confinamento, o debate sobre a pacificação das ruas e a estrutura de uma nova cidade se abriu mais do que nunca. A busca pela distância social pode levar os cidadãos a decidir usar seu próprio veículo para o transporte, uma iniciativa que Moreno se propõe a combater aproximando os destinos e tornando eficiente o transporte de bicicletas. 

Moreno, professor da Universidade de Sorbonne, planejador urbano e conselheiro da equipe de Hidalgo, tenta resolver como conciliar o desenvolvimento do mundo urbano com as necessidades de uma vida de qualidade, e conclui que devemos mudar radicalmente nosso modo de vida. Segundo o urbanista, nossas ruas carregam dois problemas insuperáveis: elas são o motor da mudança climática e suas ruas não são pacíficas, ou seja, não são projetadas para pedestres, mas sim colocam os veículos em uma posição privilegiada.

Imagem: Paris en Common.

“Isto também tem um componente social e procura facilitar o intercâmbio de idéias e a colaboração para criar um modelo econômico mais sustentável”, diz Laia Soriano-Montagut, urbanista da Associação Espanhola de Urbanistas (Aetu). “Moreno visa devolver as ruas aos pedestres, não apenas para reduzir as emissões de dióxido de carbono, mas também para aumentar sua qualidade de vida”, diz Soriano-Montagut.

A cidade de quinze minutos visa modificar nossa relação com o tempo e o espaço, mudar da cidade monofuncional, com centros de áreas especializadas, como distritos de escritórios ou grandes complexos de lazer, para um mapa policêntrico, e gerar uma cidade com vários núcleos distribuídos ao longo de seu traçado urbano.

Os parisienses gastam até 92 minutos por dia se deslocando para o trabalho. Foto: Mark Lawson / Unsplash.

A nova cidade de Moreno tem bairros capazes de oferecer a seus cidadãos uma solução habitacional, trabalho, abastecimento, cuidado, educação e lazer a um máximo de quinze minutos de distância de suas casas. Para este fim, o professor coloca a lupa em quatro pólos: proximidade, diversidade, densidade e ubiqüidade. “Devemos ter todas as nossas necessidades cobertas num raio de um quilômetro, as ruas e edifícios devem ser diversos e multifuncionais, e a densidade de nossas cidades deve estar entre 100 e 300 habitantes por hectare”, explica Soriano-Montagut. Outro ponto-chave do modelo urbano que Hidalgo colocou em sua agenda eleitoral em março passado é a proliferação de espaços verdes.

Jane Jacobs caminhava pelas ruas de Greenwich Village, na baixa Manhattan. Imagem: Architect Magazine / Reprodução.

A prefeita socialista reeleita propõe que os habitantes da cidade deixem de fazer “viagens de fuga” para encontrar ambientes naturais. Este modelo que está dando a volta ao mundo não está longe da teoria da urbanista canadense Jane Jacobs, que em seus anos 60 trabalhou “Morte e Vida nas Grandes Cidades Americanas” desenhou uma nova cidade.  “Jacobs desenvolveu uma teoria sobre a importância das pessoas na cidade, deslocando os carros da primeira posição e pacificando as ruas”, explica Soriano-Montagut. Para Jacobs, a cidade precisava ser mais segura, ampliando as calçadas e criando edifícios e distritos multifuncionais, onde os andares residenciais e de escritórios coexistiam normalmente. O planejador da cidade fez um desenho de uma cidade onde era difícil estar sozinho. Moreno dá um passo além da teoria de Jacobs e coloca o relógio em movimento para trazer a teoria do planejador da paz canadense à realidade. Mas como esta teoria se traduz em nossas cidades?

O plano da cidade de 15 minutos pode transformar, por exemplo, cafés em espaços para as necessidades de outros cidadãos fora do horário de funcionamento. Foto de Nicolas Lafargue / Unsplash.

Para Sorioano-Montagut, a resposta é clara: uma nova mobilidade que conecta a cidade de uma forma mais sustentável. “Não podemos limpar completamente os carros do mapa e eles têm que continuar a ocupar as principais artérias dentro e fora da cidade, mas temos que mantê-los no mínimo”, diz o planejador da cidade. Além de estar conectada de forma mais sustentável, a nova cidade de Carlos Moreno de 15 minutos não pode existir sem políticas de conciliação familiar e sem o aumento do teletrabalho. “Grandes empresas e administrações públicas têm infra-estrutura suficiente para implementar estas medidas”, diz Soriano-Montagut. Além de expandir o transporte intra-urbano, a mobilidade dentro e fora das cidades também deve crescer para que seja mais eficiente entrar na cidade.

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Por Marta Tamayo no EjePrime (espanhol).

 

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