Virada Cultural: “viva e deixe viver, certo mano?”

Um dos empresários mais bem-sucedidos da noite paulistana, Facundo Guerra afirmou em entrevista à revista Trip de março de 2015: “São Paulo, superconservadora de dia, berço do malufismo, é libertária pra caralho à noite”. O fim de semana da Virada Cultural 2015 talvez tenha sido o mais libertário do ano.

Minha Virada começou sábado às 18h na Praça da República, com a bela apresentação da Orquestra Paulistana de Viola Caipira. Depois, passei na Festa Junina da Igreja da Consolação, no Galinhodromo da Praça Roosevelt, vi o rock (sim, rock!) do Odair José na Rio Branco e finalizei com o show do Lenine. No domingo, assisti ao Abraçaço, de Caetano Veloso e o incrível show do Emicida, ambos na Praça Julio Prestes. Tudo na maior paz, sem medo, sem problemas.

Essa foi a minha programação, mas cada paulistano, paulista ou turista teve a sua experiência. Milhares de pessoas curtiram a cidade entre as 1500 atrações.

Quem escolheu as atividades do centro de São Paulo teve a chance de ver a cidade de um jeito diferente, que os dias de rotina não possibilitam. Você conversa com pessoas que jamais teria contato e talvez nunca mais encontre na vida. Um senhor me contou com muito orgulho como foi ir ao show Ray Charles e conheci pessoas que moram no meu bairro e jamais tinha visto na rua.

Em todos os portais e jornais a cobertura jornalística é positiva, relata boas apresentações e público satisfeito com o que viu. Apesar disso, as manchetes e chamadas das capas de jornais e homepages dos sites focam (e muito) no lado ruim do evento. É possível ver textos como “apesar de poucos roubos e furtos, o evento foi positivo” ou também destaques para as poucas filas no Galinhodromo da Roosevelt, como se fosse ruim (precisa de filas e confusão pra fazer sucesso?).

Experimente ler comentários dos sites de notícias e suas páginas no Facebook e tenha a impressão de que ninguém teve um minuto de paz ao sair nas ruas de São Paulo durante o evento. É muito ódio no coração. As pessoas parecem sentir prazer quando as coisas dão errado, torcem pra isso, desejam notícias ruins. As tags são as mesmas: drogas, violência, Virada Criminosa, filas, etc.

Por que não destacar as boas apresentações, das peças de teatro que animam as crianças, da divertida batalha de drags?

Fica claro que parte da audiência dos sites está interessada em notícias ruins, os portais destacam a violência, um alimenta o outro. Por causa de abordagens como essa o evento segue em descrédito com boa parte da população. Graças a diversos problemas de edições anteriores, muita gente associa Virada Cultural SOMENTE a bebedeira, arrastões, confusão e medo, sem levar em consideração nada de positivo.

Obviamente, a imprensa e as pessoas devem falar dos erros e coisas ruins do evento. O balanço oficial da Polícia Militar aponta 73 ocorrências, furtos e roubos. Em 2014, foram quatro pessoas feridas a facadas e sete baleadas no evento, neste ano, nenhuma. O número de atendimentos médicos foi de 268 pessoas, enquanto ano passado foi de 1883.

O Secretário de Municipal de Cultura de São Paulo, Nabil Bonduki, destacou que a Virada deste ano foi um evento da paz. E foi, para milhares de pessoas. Por onde passei, com todos amigos que conversei e depois de uma longa busca nas redes sociais, não encontrei relatos gravíssimos de violência.

São Paulo precisa de mais eventos nas ruas, a céu aberto, que virem a noite e deixem que os paulistanos e turistas (venham, sejam bem-vindos) aproveitem a cidade, se divertir, serem livres. As pessoas precisam perder o medo de andar pela cidade, seja na periferia ou no centrão.

A Virada Cultural foi um ponto positivo e mais um avanço na recente retomada dos espaços públicos da capital. O Carnaval de Rua deste ano também. Torço para que essas atitudes positivas se repitam em todo o Brasil. Quanto mais gente na rua, melhor.

Como bem disse Emicida em seu show: “viva e deixe viver, certo mano?”.

Davi Rocha no Brasil Post. 

 

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