“(…) – Você que explora em profundidade e é capaz de interpretar os símbolos, saberia me dizer em que direção e qual desses futuros nos levam a ventos propícios?
– Não saberia traçar exatamente a rota, nem fixar a data da atracação … a viagem é descontínua, você não deve crer que pode parar de procurá-la.
Pode ser que enquanto falamos, ela esteja aflorando dentro dos confins do seu império. “ (Diálogo entre o Grande Khan e Marco Polo, em Cidades Invisíveis de Italo Calvino).
A estratégia é habilidade tão antiga quanto humana. Radicalmente relacionada à sobrevivência e ao exercício do poder, só passa a ser considerada central na gestão dos negócios, a partir dos anos 50. Nesse pós-guerra coube a empreendedores e executivos, inclusive com experiência militar, reconstruir boa parte do mundo. Uma cultura que valoriza o planejamento, a hierarquia e a busca de objetivos comuns. Os conceitos de missão e visão são legados dessa tradição.
Hoje o campo de batalha transformou-se. Conectados globalmente por um fluxo de informações, temos uma percepção aguda de conflitos e interesses diversos em cenários que se desestabilizam rapidamente. Novas tecnologias obrigam organizações e profissionais a se reinventarem, sem um roteiro de como aproveitar competências já estabelecidas.
A maior transformação está no comportamento de consumidores. Busca-se identidade e experiências que gerem significado na escolha e na fruição de bens e serviços. Este contexto representa um deslocamento de valores e hábitos. Exige ajustes, mas também proximidade e experimentação em toda a cadeia de produção e consumo.
Por sorte, nas organizações também se esgota o valor de uma jornada de trabalho repetitiva. Procura-se um sentido que conecte tarefas, desde como fazê-las ao impacto nos resultados, convocando a autoria de quem as realiza ou coordena. Essa aspiração por protagonismo está na raiz de uma inteligência ancorada no saber fazer, que cria organização, identificando oportunidades e diminuindo riscos. Essa abordagem, próxima de quem faz e das fronteiras com o ambiente, entende a estratégia como uma prática, que vai dos planos, às ações e seus resultados.
Na experiência de quem faz, pensar e agir estrategicamente são momentos entrelaçados no presente, determinando responsabilidades e ações. Assim, projetar o futuro deve ser um exercício que forma gestores e empreendedores, criando mecanismos de como chegar lá. Ao entender que todos são estrategistas em diferentes intensidades ou medidas, os atos de planejar e suas escolhas fazem parte de um processo que prepara a implantação do que está sendo projetado.
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Bia Blandy estuda estratégia e se interessa por suas aplicações no dia a dia de pessoas e organizações. Já foi professora e diretora de escola. Hoje, dirige a Prática, Gestão e Estratégia.