Sim, resedás são muito sofisticados. Diferentemente de outras espécies encontradas nas calçadas de São Paulo, eles não possuem raízes agressivas e têm um tronco muito singelo, liso e marmorizado, que mistura tons claros de cinzas e marrons – tons sempre em harmonia com os de suas flores. Ao mesmo tempo, em oposição à sua imagem de fragilidade, os resedás são muito resistentes à poluição e à frequente alternância entre sol forte e chuvas intensas, típica do nosso verão.
O porte médio de um resedá não tem a imponência de um ipê, nem sua copa é frondosa como a do flamboyant; mas sendo uma das poucas espécies a florir nesta época do ano na cidade, ele reina absoluto em sua bela e discreta elegância. Na complexidade da metrópole, um menos que é mais.
Por curiosidade, decidi pesquisar a origem dessa pequena árvore tão organicamente inserida em nossa paisagem, e, leiga que sou, fiquei surpresa ao descobrir que o resedá é uma espécie exótica (sua origem é asiática). Mais surpresa ainda, no entanto, fiquei ao saber que 80% das árvores e plantas de São Paulo vieram de outros estados ou países. Das dez árvores mais comuns na cidade, apenas uma – o jerivá – é nativa de nossa região. A tipuana veio da Bolívia; a sibipiruna, da Mata Atlântica do Rio de Janeiro; o pau-ferro, do Nordeste do Brasil; e o jacarandá-mimoso, da Argentina. Até a azaléia, flor considerada símbolo da cidade, tem origem na China e no Japão.
Passado o espanto do primeiro momento, essa heterogeneidade no paisagismo da cidade me pareceu absolutamente natural – ora, sendo São Paulo composta por migrantes e imigrantes de todas as partes Brasil e do mundo, por quê seria diferente com suas árvores e flores?
Acho que nenhuma outra composição paisagística traduziria tão bem a mistura de raças, cores, crenças e culturas presente em nossa população. Na verdade, essa multiplicidade de espécies de plantas, e sua variedade de cores, formas, origens, perfumes, tamanhos e épocas de floração, só reitera a natureza de São Paulo: uma cidade viva, em constante mutação, que todos os dias morre, germina, renasce e floresce, para então morrer de novo – e assim eternamente persistir, cada vez mais bela e mais forte.
Ps. Com alguns dias de atraso, esta é minha singela homenagem à nossa cidade por seu 465º aniversário.
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Valéria Midena, arquiteta por formação, designer por opção e esteta por devoção, escreve quinzenalmente no São Paulo São. Ela é autora e editora do site SobreTodasAsCoisas, produtora de conteúdo e redatora colaboradora do MaturityNow.