‘Yorimatã’: o documentário sobre a história da dupla Luhli e Lucina

“Yorimatã é uma palavra mágica (…) Quer dizer ‘salve a criança da mata’. Era o nome de uma música nossa, depois virou o título de um show, o subtítulo do nosso segundo LP independente e se tornou mais do que isso. É uma palavra de abre-alas, de abre-caminhos: ‘Yorimatã’! E tudo dá certo! É um talismã”, explica Luhli na abertura do documentário dirigido por Rafael Saar, que estreia nos cinemas neste dia 7.

O filme Yorimatã conta a fascinante história da dupla Luhli e Lucina, cantoras, compositoras e multi-instrumentistas que fizeram mais de 800 composições e traduziram a liberdade para a linguagem musical. São elas as autoras dos clássicos O Vira, eternizado pelo grupo Secos e Molhados, e Bandoleiro e Fala, canções que ficaram famosas na voz de Ney Matogrosso, que participa do documentário. Além dele, dão depoimentos sobre a dupla Gilberto Gil, Joyce Moreno, Tetê Espíndola, Alzira Espíndola, Zélia Duncan, Antonio Adolfo e Luiz Carlos Sá, da dupla Sá e Guarabyra.

Mais do que resgatar a enorme importância e o pioneirismo de Luhli e Lucina para a Música Popular Brasileira, Yorimatã mostra como a dupla desafiou regras sociais e do mercado fonográfico nas décadas 1970 e 1980. Além de serem consideradas as primeiras mulheres a tocar percussão e de terem rompido com gravadoras em nome da liberdade artística, as duas viveram intensa e longamente uma história de amor a três com o fotógrafo e cineasta Luiz Fernando Borges da Fonseca.

 

Luhli e Lucina em cena do documentário ‘Yorimatã’. Imagem: reprodução.
 
“A gente teve quase três anos de amizade mesmo. A gente viajava, a gente curtiu muito. Um belo dia, o Luiz deu uma declaração: ‘Tudo bem, eu já conversei com a Luhli’”, relembra Lucina no filme. “Então, em vez de eu perder ele e ela, eu abri. E ele passou a ter em mim uma confidente. Isso criou uma nova dimensão de cumplicidade entre nós, que varreu as brigas, e a relação se reciclou. Ela salvou o nosso casamento (…) Nós éramos, mais que tudo, três pessoas juntas. Por acaso era um homem e duas mulheres. A energia circulava para todos os lados. E, desde o começo, sempre houve uma quarta pessoa, que era a própria música, que tomava um tempo enorme, uma dedicação enorme”, declara Luhli.

Ney Matogrosso afirma no longa-metragem que não é possível dissociar a música de Luhli e Lucina do modo de viver do trio: “Nunca consigo ver vocês apenas como artistas. Eu vejo a existência de vocês naquele contexto de vocês duas e do Fernando. E eu vi que houve uma reação de muita gente a vocês. Porque vocês eram uma coisa que talvez fosse idealizada por muita gente, mas que ninguém realizava. Vocês realizaram às claras. Eu sei que o fato de vocês terem realizado tudo às claras afastou muita gente, mesmo assim, vocês exiladas, disseram ‘Não tem impotância, nós estamos exiladas mas estamos com a verdade’. Enfrentaram as famílias, a hipocrisia organizada da sociedade, que é [assim] até hoje. E eu pensei: ‘Não estou sozinho neste mundo’”, confessa o cantor.

Gilberto Gil, por sua vez, valoriza a diversidade musical da dupla, que teve forte influência dos batuques da umbanda: “Na coisa de vocês, a gente percebe as raízes brasileiras todas, as urbanas e as interioranas. O Brasil todo é perpassado por essa coisa negra… Todo mundo logo cedo batucou alguma coisa, trocou as pernas, sacudiu os pés”, diz.

Yorimatã faz um passeio sonoro pela música, pela vivência hippie de amor livre e desapego material, pela intensa conexão com a natureza e seus mistérios, pela inspiração vinda da umbanda, passando pela construção dos próprios instrumentos musicais e pelo preconceito que a dupla sofreu por causa do relacionamento a três.

Rafael Saar usa em seu filme imagens de arquivo (muitas delas registradas por Luiz Fernando) e atuais para contar uma história cheia de magia e de coragem de duas talentosas mulheres muito à frente de seu tempo. Uma história emocionante de duas artistas que viveram intensamente a busca pela liberdade e cuja obra tem valor fundamental para a cultura brasileira.

Yorimatã
Ficha técnica.
Direção e argumento: Rafael Saar. 
Produção: Daniela Santos, Eduardo Ades, Eduardo Cantarino e Rafael Saar.
Pesquisa: Adil Lepri e Rafael Saar.
Gênero: documentário.
Duração: 117 minutos.
Classificação: 10 anos.
País: Brasil.

Assista o trailer oficial

Prêmios
Melhor Filme – Júri Oficial – 7º Festival Internacional do Documentário Musical, In-Edit Brasil 2015.
Melhor Filme – Voto do Público – 7º Festival Internacional do Documentário Musical, In-Edit Brasil 2015.
Menção Honrosa de Melhor Direção – Festival Mix Brasil 2015
Prêmio de Pesquisa – Pirenópolis.doc 2015.
Prêmio Delart – CineMúsica 2015.

***
Xandra Stefanel, especial para RBA.

 

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